A cada ano, cerca de 140 mil pessoas morrem de doenças do coração no Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Para as mulheres, o risco pode ser ainda mais significativo, já que o número de infartos entre elas aumentou de 10% a 48% nos últimos 50 anos.
Cerca de 90% dessas mortes, inclusive as decorrentes de mal súbito, poderiam ser evitadas com o diagnóstico básico de um simples eletrocardiograma, seguido de tratamento e acompanhamento médicos adequados. Alguns sintomas podem ajudar a identificar um problema cardíaco.
Para crianças e adolescentes que vão iniciar prática esportiva ou que possuem histórico de doença cardiovascular na família, ele deve ser feito logo cedo, explica o médico cardiologista Carlos Alberto Pastore, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMSUP (Incor).
Uma boa consulta cardiológica e um eletrocardiograma bem interpretado podem diagnosticar mais de 90% dos problemas cardíacos, principalmente os congênitos, poupando milhares de vidas, afirma o médico.
Quanto antes essas doenças forem diagnosticadas, maiores as chances de sucesso no tratamento e de que a criança e o adolescente tenham vida normal, quando adultos. A insuficiência cardíaca, por exemplo, mata 50 mil brasileiros por ano.
Por outro, alerta o cardiologista do Incor, se forem expostos a uma condição de estresse cardiovascular sem preparo, esses jovens cardiopatas poderão ser em breve uma das 140 mil pessoas vítimas de morte súbita anualmente no Brasil.
- É um erro as academias e clubes não exigirem avaliação cardiológica para início de atividade física. Mesmo que isso não seja solicitado, os pediatras devem ficar atentos, orientando os pais a levarem os filhos para consulta com o cardiologista, principalmente antes do início da prática física - afirma.
Foi justamente a atenção do pediatra que levou a veterinária Ariadne Silva, 53 anos, a submeter sua filha Cecília, aos dez anos de idade, à avaliação cardiológica, tendo como base o eletrocardiograma. Uma alteração no ritmo cardíaco da menina (que fazia seu coração bater mais lentamente do que o normal e era acompanhada pelo médico desde que ela era pequena) pode, então, ser diagnosticada pelo cardiologista como uma bradicardia.
- Descobrimos, depois, que essa alteração é encontrada em outros membros da família. Felizmente ela não é uma condição que traga qualquer limitação à vida da minha filha, mas precisamos acompanhar.
Hoje, com 18 anos, Cecília está fazendo cursinho para o vestibular de Direito e é uma praticante assídua de atividade física: faz ginástica duas vezes por semana, acompanhada de orientação profissional.
A experiência serviu de alerta para Ariadne estender essa preocupação com a saúde do coração para toda a família. Laura, sua filha mais nova, de 12 anos, foi submetida ao exame cardiológico já aos oito anos de idade, e seu marido, Wladimir, 47 anos, faz avaliações a cada ano.
O eletrocardiograma é eficaz também para acompanhar pacientes sob uso de medicamentos (antibióticos, antialérgicos, antidepressivos e até antiarrítmicos) que, em alguns casos, agem negativamente sobre o coração. Principalmente quando o órgão é acometido de uma doença silenciosa, ainda não diagnosticada.
- Muitas vezes, a doença é congênita e não apresenta qualquer sintoma, mas, ao interagir com medicação inadequada, pode ser fatal - explica o cardiologista.
O que é o eletrocardiograma
O eletrocardiograma é um exame que registra a atividade elétrica do coração. Ela se apresenta alterada no aparecimento ou na evolução de mais de 90% das doenças cardíacas - principalmente as arritmias, sejam em pessoas doentes ou saudáveis, e os infartos agudos.
Leia mais notícias sobre saúde