Acostumadas a receber turmas com ampla maioria de homens, as salas de aula do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ficaram quase irreconhecíveis.
Com olhares curiosos e compenetrados, dezenas de alunas do Ensino Médio enchiam os professores de perguntas e se fascinavam com os experimentos durante a manhã e tarde de ontem. Era um mundo até então desconhecido para elas. Yasmin Freitas, 13 anos, não hesitava na hora de mexer nos objetos que via ao seu redor:
- É tudo muito legal e bem diferente do que vemos na escola. Acho que pode ser muito útil para a minha carreira - contou.
Junto com ela, outras 60 estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Alberto Torres fizeram parte do primeiro grupo a participar do projeto Meninas na Ciência, elaborado por professores da UFRGS para atrair o público feminino ao mundo da Astronomia, da Física, da Engenharia e da Ciência da Computação.
- Por uma questão cultural, se acredita que essas áreas são masculinas, que só homens devem atuar nelas. As meninas não se enxergam ocupando esse espaço. Queremos mudar isso - justifica Daniela Pavani, professora do Departamento de Astronomia da universidade e coordenadora do projeto.
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Atualmente, o número de mulheres que optam por seguir uma carreira relacionada a Física e Engenharia, por exemplo, representa de 10% a 20% do total de profissionais no Brasil, explica Daniela. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam uma média semelhante para quem busca o curso de Ciência da Computação: 20,1% são mulheres.
Esther Schantz, de 16 anos, é uma das estudantes bolsistas do programa e acompanha o projeto dentro e fora da escola:
- Esse trabalho é muito importante também para mostrar que a mulher tem seu valor e que pode ocupar um espaço nessas áreas. Estamos enxergando isso de uma forma mais clara agora.
Iniciado em março deste ano a partir de um incentivo do governo federal, o projeto tem levado à escola palestras, vídeos e exposições para incentivar os alunos a debater questões de gênero e a refletir sobre como influenciam a futura formação acadêmica e profissional. Ontem foi a vez de as meninas irem até a universidade para conhecer a ciência mais de perto.
Durante todo o dia, visitaram salas e laboratórios de diferentes cursos. Aprenderam sobre a física dos instrumentos musicais, sobre as fases da lua, os princípios do lançamento de um foguete e até descobriram como ver o céu em três dimensões.
Um dos pontos que mais chamou a atenção, entretanto, foram os experimentos em física com materiais simples. Ainda um pouco tímida na sala, a estudante Andressa Padilha, de 16 anos, acompanhava o objeto rosa que se movia à sua frente.
- Este é o pêndulo caótico. Quando movimentamos ele, não conseguimos prever o que ele vai fazer. Ilustra bem o princípio da teoria do caos - explicava Betina Zigue, 20 anos, aluna do quarto semestre da faculdade de Física.
Ao lado de Andressa, Nathaly Ferreira, 14 anos, escutava atentamente a explicação e confessava:
- Isso é muito legal. Queria estudar o corpo humano, mas agora já estou em dúvida.
Para a coordenadora do projeto, esse tipo de niciativaé fundamental para o debate sobre gênero e para estimular as meninas a entrar no mundo das ciências exatas. Prestes a concluir o primeiro ano do projeto, Daniela pretende expandir a experiência para outras escolas no próximo ano.