Tem produtor agroecológico de olho em algum espacinho na feira da Rua José Bonifácio, na Capital, o mais clássico ponto de venda de orgânicos do Estado e referência nacional, já que a iniciativa foi pioneira no país (inteiramente orgânica, está entre as maiores da América do Sul). A faixa de duas quadras, vizinha a um dos parques mais queridos de Porto Alegre, a Redenção, fervilha todas as manhãs de sábado: mais de 130 bancas se acomodam lado a lado, separadas quando muito por estreitos vãos, formando uma viela que recebe milhares de pessoas num vaivém de formigueiro.
Este é apenas um dos cenários - o pioneiro, como já se disse - de uma febre crescente dos gaúchos por alimentação mais saudável e que vem tomando conta da Capital e de outras cidades do Estado.
Fome de orgânicos:
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- Tem fila de espera por box por aqui - diz Mário Ozório, 70 anos, produtor agroecológico há uma década e que responde pelos 90 boxes da segunda quadra da feira da Redenção.
A mais jovem feira orgânica da Capital, com três bancas, criada em dezembro passado, fica no bairro Petrópolis. E está em gestação uma outra, sem data de inauguração ainda, no bairro Três Figueiras. Ambas são resultado de iniciativas dos moradores locais. Sem falar ainda nos chamados pontos de oferta ecológica, no Centro e na Zona Sul, só para citar dois exemplos, que já formam um público fiel - pontos que, para a Prefeitura/SMIC, não são oficialmente feiras.
Segundo a Emater-RS, cem municípios gaúchos já contam com feiras com base ecológica, totalizando 172 pontos. Em todo o Estado, as iniciativas exclusivamente eco chegam a 13. Em 2013, técnicos da entidade acompanharam cerca de 10 mil produtores envolvidos com agricultura com base ecológica ou em transição para tal.
- Aqueles que estão buscando esse tipo de produção querem melhorar a qualidade de vida deles. A agricultura convencional é uma atividade de risco, insalubre. A conversão para a produção orgânica é uma decisão consciente responde Ari Uriartt, agrônomo da Emater/RS.
-Produzo frutas cítricas desde 1996. Minha motivação de ir para a agricultura ecológica foi evitar o produto químico. Tinha de andar que nem um astronauta, empacotado, para aplicar aquilo. Isso não me servia conta Antônio José Bays, que responde pela feira da Tristeza.
Bays é o representante da feira no Conselho de Feiras Ecológicas da Capital, criado no final do ano passado - outro indicativo de que a demanda em torno de iniciativas agroecológicas tem exigido mais atenção.
O conselho é formado por representantes dos feirantes escolhidos por eles mesmos; por consumidores; por representantes da prefeitura (SMIC e SMS) e de instituições públicas (Emater, SDR/RS, CPORg-RS); e por representantes de ONGs. Entre outras atribuições, está a de analisar e efetivar novas feiras na Capital.
Se por trás das bancas a agroecologia vem crescendo, pela frente dos boxes também há um aumento no interesse das pessoas - justificando diferentes serviços de delivery na Capital. Sem falar no número de lojas de produtos naturais que abrem espaço para expor hortifrutis orgânicos.
- Noto que há mais jovens que cozinham vindo até aqui e, às vezes, vendem uma pequena produção disso comenta Anselmo Kanaan Costa, que ajuda a administrar as feiras no bairro Menino Deus.
No seu mailing de trabalho, são mais de 700 os contatos que recebem informações do que acontece no local. Na feira da José Bonifácio, os testemunhos de maior interesse do público se repetem:
-Tem cada vez mais donos de restaurantes vindo buscar produtos orgânicos - observa Pereira.
As imagens que ilustram essa matéria foram retiradas do documentário realizado pelo Coletivo Aura, dos realizadores Antônio Ternura, Ieve Holthausen, Sérgio Guidoux e Tuane Eggers, na Feira dos Agricultores Ecologistas (FAE) de Porto Alegre.
Assista ao video completo:
Afinal, o que é um produto orgânico?
Orgânicos descobertos
Fome de orgânicos: aumento de produtos e serviços reflete desejo de vida saudável
Em Porto Alegre e outras cidades do Estado, multiplicam-se as ofertas de feiras especializadas nos alimentos sem agrotóxicos
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