Não é machismo, ou não de todo, pelo menos, afirmar: depois de uma certa e tenra idade, os homens se divertem mais que as mulheres. Uma das razões pode ser a capacidade deles de abstrair os problemas e se concentrar em coisas agradáveis, como um jogo de futebol ou um churrasco com os amigos. Nem que seja por algumas horas. Já as mulheres, na regra, nunca abstraem. Nem que seja por alguns minutos.
Esse descompromisso, digamos, aparece desde o colégio, quando o menino mais engraçado da aula solta uma bobagem que faz todo mundo rir no meio da explicação de matemática. E acaba com o bom humor da professora. Pela vida afora será assim, eles vendo graça em tudo, elas querendo manter a compostura. Seriedade que, até agora, vem passando de mãe para filha.
Para a psicanalista Diana Corso, autora dos livros Fadas no Divã e Psicanálise na Terra do Nunca, ambos escritos em parceria com seu marido, o também psicanalista Mário Corso, o humor é uma expressão de irreverência presente nas oposições a qualquer tipo de ditadura. Sendo as mulheres ainda novatas no exercício da oposição, se considerarmos que o feminismo, como cultura, existe há pouco mais de um século, faz sentido essa pouca prática no assunto. Subjugadas por séculos e obrigadas a lutar por direitos elementares, não é de se estranhar que faltasse às mulheres até mesmo a vontade política da gargalhada. Com a palavra, Diana.
- Nossa especialidade são as artes mais sorrateiras, as que pudemos exercer desde os bastidores, nas brechas do confinamento doméstico, como a ironia e a crítica velada. O humor costuma vitimar aqueles que a sociedade despreza, e a hipotética burrice ou futilidade feminina foi motivo de piada por muito tempo. Ficava difícil rir das piadas que nos deixavam em maus papeis ou que proclamavam uma superioridade branca e masculina da qual éramos excluídas. Mas assim como os judeus, maltratados pelo preconceito, souberam tomar para si esse território e se tornaram melhores humoristas que seus detratores, talvez esse seja um bom caminho para as mulheres também. Não temos tradição, mas tudo indica que chegaremos lá.
O humor brasileiro está renovado com
Clarice, Natalia, Tati, Dani e Tatá
Clarice Falcão, 24 anos, pernambucana. É roteirista, atriz, cantora e integrante eventual do Porta dos Fundos (www.portadosfundos.com.br ), que estourou produzindo humor para a internet. Filha da escritora e roteirista Adriana Falcão e do dramaturgo e diretor João Falcão, a guria já não serve para revelação: ela esbanja um talento tão versátil quanto maduro. É namorada de Gregório Duvivier, outro dos bons atores do Porta dos Fundos.
Natalia Klein, 28 anos, carioca. Escritora, roteirista e atriz, é a criadora do seriado Adorável Psicose, exibido pelo canal de tevê a cabo Multishow. Anda bem louca com filmagens e novas produções:
- Não consigo arrumar tempo nem pra raspar as pernas. Ok, mentira, eu raspo rapidão e fica meio mal feito, sobrando uns tufos no joelho e nos tornozelos - ri.
Tati Bernardi, paulista, 34 anos. Ex-publicitária, escritora, roteirista da Globo e dona de um dos twitters mais seguidos do país. Existem páginas e páginas de frases dela no site O Pensador.
Tatá Werneck, 30 anos, carioca. Ex-VJ da MTV, está estreando na novela Amor à Vida como Valdirene, a periguete enlouquecida da nova trama das nove. Junto com elas, a já superstar Dani Calabresa, casada com o Dentista Mascarado Marcelo Adnet, completa a lista das meninas que andam fazendo todo mundo rir no Brasil.
A seguir, elas falam de suas carreiras até aqui e projetam os próximos passos.
Para tentar entender como se transformaram no que são hoje, algumas mães que toparam a brincadeira, respondem: essas gurias já prometiam tudo isso quando eram pequenas?
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TATÁ POR TATÁ WERNECK
A vida anda tão corrida que Tatá Werneck só conseguiu falar assim: "Estou me maquiando, trocando de roupa no camarim e escrevendo. Desculpa a pressa, mas está sendo o melhor que posso fazer nesse momento!".
O que ela diz dela mesma
Comecei a fazer teatro aos nove anos e não me lembro de nenhuma fase da minha vida em que não soubesse que queria ser atriz. Aos nove já estava em cartaz de quinta a domingo, enquanto minhas amigas iam para as festinhas. Desde cedo, tudo o que eu fazia tinha um toque de humor. Na vida e em cena. Sempre usei o humor para sair e entrar em qualquer situação.
É o nosso trunfo para sobreviver. Nada é mais marcante do que um dia que se passou inteiro rindo, ou algo que te levou às gargalhadas. E nada me faz mais feliz do que fazer uma pessoa rir. É quase espiritual. Na minha faculdade de teatro (Uni-Rio), eu fui proibida por alguns professores de fazer cenas de comédia para que não ficasse limitada como atriz.
Quem fizesse humor naquela época, ou algo que pudesse ser comercial, era extremamente discriminado. O legal era fazer teatro de pesquisa, transgressor ou clássico, que eu também adorava, mas que não dava o sorriso no rosto que um sorriso no rosto me dá."
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