Todo outono do hemisfério Norte sai uma nova leva de livros sobre vinho. A deste ano inclui três obras muito necessárias, que cobrem lacunas na literatura sobre o tema. Embora cada uma delas tenha apelo principalmente àqueles versados no básico da enologia, qualquer pessoa curiosa e que queira investir (razoavelmente, em um dos casos) deve encontrar grande utilidade nestes livros.
Haverá entre os falantes da língua inglesa especialista em vinhos mais influente que Jancis Robinson? Ela já é a editora do "Oxford Companion to Wine", e coautora, com Hugh Johnson, do "Atlas do Vinho", as duas referências mais essenciais no tema. Agora, ela tem ainda um terceiro livro, "Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours" ("Uvas viníferas: guia completo de 1.368 variedades, incluindo suas origens e sabores", Ecco, 175 dólares), escrito com Julia Harding e Jose Vouillamoz.
Sim, o preço é esse mesmo, e voltarei a isso. Começarei por dizer que o livro não está apenas chegando num bom momento, mas atrasado. Desde "Vines, Grapes and Wines" ("Videiras, uvas e vinhos"), publicado pela autora em 1986, e da "Encyclopedia of Grapes" ("Enciclopédia das uvas") de Oz Clarke, que saiu em 2001, faltava uma obra de referência extensa e atualizada sobre as uvas.
Desde que saíram esses livros, os estudos genéticos ampliaram muito a nossa compreensão do parentesco entre as uvas. E, mais importante, a explosão da diversidade dos vinhos disponíveis aos consumidores expandiu imensamente o universo de uvas que exigem um exame mais cuidadoso. Os consumidores e os profissionais do vinho querem saber mais sobre a assyrtiko e a trousseau, a cornalin e a frappato, uvas raramente consideradas nos antigos textos. "Wine Grapes" atende a essa necessidade.
Ensaios introdutórios breves, mas extremamente úteis, resumem de tudo - desde a diferença entre mutações e clones, até os meios pelos quais a phylloxera, praga dos vinhedos europeus no fim do XIX, forçou os agricultores a mudar antigos métodos de propagação e arranjos dos vinhedos.
O grosso desse espesso livro - de quase mil e trezentas páginas, sem falar de tabelas e ilustrações ampelográficas - e o que sem dúvida será a parte mais significativa para a imensa maioria dos leitores, são verbetes individuais abrangentes para cada uma das 1368 variedades de uvas que (ao menos neste exato momento) produzem quantidades comerciais de vinho em todo o mundo.
Entre estas estão as uvas internacionais mais comuns, como a cabernet sauvignon e a chardonnay, até raridades como a limniona, uma uva tinta grega que, diz o livro, quase se extinguiu, para ser salva por um único agricultor. Como acontece com quase todas as uvas listadas, o verbete sobre a limniona examina sua origem genética, características viticulturais, os lugares onde é cultivada e seu sabor.
O livro tem suas limitações: muitas uvas têm nomes múltiplos e, embora os autores tenham feito um esforço louvável em usar o nome pelo qual cada uva é melhor conhecida em seu país de origem - a grenache e a mourvèdre, por exemplo, estão listadas por seus nomes espanhóis, garnacha e monastrell - esse princípio às vezes desafia o senso comum. O nome francês cot, hoje confinado ao vale do Loire, ganha primazia na denominação da uva mais conhecida no mundo como malbec.
Soma-se a isso que a decisão de listar uma série de uvas geneticamente idênticas, incluindo a pinot noir, a pinot blanc, a pinot gris e outras sob o cabeçalho genérico "pinot", rompendo com a ordem alfabética, pode confundir. E o centro de uma tabela que organiza a família pinot está enterrado na costura do livro, impossível de ler.
Mas isso são ninharias numa obra prima à qual sei que vou voltar muitas e muitas vezes.
Ah, sim: o preço exorbitante. Já vi que o livro está sendo vendido com grandes descontos nas maiores livrarias. Mas, mesmo sendo caro, é uma necessidade absoluta para aqueles que almejam um conhecimento profundo do vinho.
Igualmente oportuno é o livro "Sherry, Manzanilla and Montilla: A Guide to the Traditional Wines of Andalucia" ("Xerez, Manzanilla e Montilla, um guia dos vinhos tradicionais da Andaluzia", Manutius, 30 dólares), de Peter Liem e Jesús Barquín. Poucas tendências no vinho têm sido tão fascinantes quanto os últimos cinco anos de renovado interesse no xerez, há muito ridicularizado como uma bebida velhusca entre os amantes mais jovens e acalorados do vinho. O que faltava era um texto atualizado capaz de apresentar o xerez sob uma perspectiva moderna.
Poucos escritores estão em posição tão ideal para preencher essa lacuna como estes. Barquín, professor de direito penal na Universidade de Granada, também escreve regularmente sobre comida e vinho e, por sinal, é um dos proprietários da Equipo Navazos, desbravadores negociantes do xerez. Liem, estudioso do vinho residente na Champagne, é há muito fascinado pelo xerez e passou bastante tempo viajando pela região de sua produção. Ele também estava particularmente apto a notar os muitos, e às vezes surpreendentes, paralelos entre o champanhe e o xerez.
Juntos, eles produziram um levantamento histórico palatável, incluindo os métodos e estilos da região e os desafios e oportunidades ali enfrentados, junto a perfis críticos extremamente úteis das principais bodegas de xerez e montilla.
Tudo isso já justificaria o livro, mas ele vai ainda mais longe. De maneira lúcida, sutil, irônica e delicadamente subversiva, "Sherry..." questiona muito do pensamento convencional sobre como se fazem vinhos e como eles deveriam ser consumidos. Assim, funciona não só como excelente resumo do que foram até agora, mas também como visão sábia e esperançosa do que podem vir a ser.
A terceira obra de referência é uma história do vinho australiano. Após uma década ou mais de vendas excepcionais nos Estados Unidos, a Austrália recuou muito na consciência de muitos enófilos americanos. Quando chegam a pensar nesses vinhos, é em geral para desqualificar as marcas mais baratas e comuns que acabaram representando uma indústria bem mais complexa e diversificada.
O trabalho de Max Allen, "The History of Australian Wine: Stories From the Vineyard to the Cellar Door" ("A história do vinho australiano: contos do vinhedo à porta da cave", Victory Books, 51 dólares), pode não mudar imediatamente a opinião do leitor, mas sua narrativa da história intensa da indústria do vinho australiano no século XX é tão calorosa e convidativa que pode inspirar os leitores a buscar um bom copo de riesling australiano.
Allen é um dos principais estudiosos do tema na Austrália, mas esta não é uma obra de crítica. É, antes, um olhar sobre um universo onde uma indústria insular alcançou influência mundial ao longo de um século.
Uma história de falsos começos e triunfos inesperados, contada em parte através de narrativas orais, e sempre com foco nas vívidas personagens que foram o cerne dessa indústria. "O mundo ama os australianos", diz Brian McGuigan, empreendedor da área. Com algum tempo, poderá voltar a amar seus vinhos.