Convidada a participar de um programa na rádio Guaíba nesta quarta-feira (24), a filósofa Marcia Tiburi desistiu da entrevista quando descobriu que o outro convidado era Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre (MBL). Os dois estavam em Porto Alegre para o julgamento de Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).
Ela comentava o processo no qual o ex-presidente teria sua condenação mantida horas mais tarde quando Kim Kataguiri entrou no estúdio. Identificada com movimentos de esquerda e autora dos livros O Ridículo Político e Como Conversar com um Fascista, Marcia ficou indignada com a presença do líder de manifestações que criticam, tanto nas ruas quanto nas redes sociais, os governos de Lula e Dilma.
— Me avisa da próxima vez quem você convida para o seu programa — pediu a filósofa ao jornalista Juremir Machado da Silva, apresentador do programa.
Quando Juremir tentou argumentar, Marcia pediu para que, da próxima vez que for convidada para uma entrevista, seja avisada com quem irá debater. Também observou que, apesar do apreço pelo apresentador, sentia vergonha de estar diante do líder do MBL.
— Deus me livre. Que as deusas me livrem. Tenho vergonha de estar aqui. Gosto tanto de ti, mas não falo com pessoas que são indecentes, que são perigosas — reforçou Marcia, abandonando o estúdio da rádio.
O impasse foi filmado, e o vídeo passou a circular nas redes sociais. Nesta quinta-feira (25), a filósofa escreveu uma carta aberta a Juremir Machado da Silva justificando o abandono do programa. O texto foi publicado no site da Revista Cult, do qual a filósofa é colunista.
"Tu, a quem tenho muita consideração, não me avisou do meu interlocutor. A tua produtora, que conversou comigo desde a semana passada, não me avisou. Eu tenho o direito de escolher o debate do qual quero participar. Entendo que possa ter sido um acaso, que estavas precisando de mais um debatedor para a performance do programa. Se foi isso, a pressa é inimiga da perfeição", escreveu.
Em uma coluna intitulada Quem tem medo de Kataguiri?, publicada na quinta-feira, horas após a veiculação do texto de Marcia, Juremir elencou razões para que a filósofa se recusasse a debater com o líder do MBL e seguiu questionando a decisão de abandonar o programa. Segundo ele, pessoas que representam ideologias diferentes encontram espaço em seu programa. Como, por exemplo, Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o próprio Kataguiri.
"Recebi duas críticas: por não ter avisado (justa) e por ter convidado Kataguiri (inaceitável). Minha visão de pluralismo é essa mesma: Boulos e Kataguiri no mesmo programa, juntos ou separados. Nos comentários que li transpareceu uma velha tentação atribuída à esquerda, mas comum na direita que me patrulha diariamente, de controlar a mídia, dizer quem tem legitimidade para falar. Todos aqueles que pensam como Kataguiri devem ser banidos da mídia? Por que não debater e desmontar seus argumentos?", questionou o jornalista.