A pesquisadora Sandra Jatahy Pesavento (1946 – 2009) escreveu a respeito de quase tudo no passado do Rio Grande do Sul. Partiu das charqueadas para fazer um estudo da República Velha. Situou o Estado no panorama da industrialização brasileira, normalmente concentrado no eixo Rio-São Paulo. Mapeou grandes dilemas da expansão urbana no Brasil. Estudou crimes, mulheres e prisões. Foi pioneira nos estudos de História Cultural no Estado.
Docente do Departamento de História da UFRGS desde os anos 1970, também formou mais de uma geração de professores da área. É essa trajetória central no panorama intelectual local que será lembrada em uma jornada de palestras e debates marcada para durar ao longo do sábado, dia 11, no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS).
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A 3ª Jornada Sandra Jatahy Pesavento está sendo organizada pelo Instituto Histórico e Geográfico, que guarda o acervo da autora, cedido pela família à instituição em 2014. Parte do material, como fotos e alguns documentos, estará exposta no local, embora nem tudo tenha sido ainda catalogado.
– É um acervo riquíssimo que abrange uma gama impressionante de interesses e pesquisas – comenta Nádia Maria Weber Santos, psiquiatra e doutora em História, aluna de Sandra Pesavento na pós-graduação e hoje curadora do acervo da pesquisadora.
O evento terá a participação de acadêmicos com atuação no Rio, em Fortaleza e Florianópolis, além de pesquisadores locais, discutindo aspectos do trabalho de Sandra Pesavento, como o olhar aos excluídos e à memória das cidades.
– Ela era uma pesquisadora citada internacionalmente, e trouxe uma nova forma de pensar e de fazer história no Rio Grande do Sul – resume Nádia.
A curadora é enfática em lembrar o papel que Sandra desempenhou no cenário intelectual local.
– Ela foi uma pioneira em vários campos. Começou na história econômica, mas foi pioneira em trabalhar a história da evolução urbana, em trabalhar a história das sensibilidades. A obra dela ainda é incontornável – diz.
De formação inicial marxista, Sandra Pesavento construiu a primeira parte de sua carreira na história econômica. Nos anos 1990, deu uma guinada para se tornar referência no campo da História Cultural, ramo que combina abordagens da História com ferramentas da Antropologia para mapear a evolução das sensibilidades e do imaginário das sociedades ao longo de um determinado período.
Livros da autoria disponíveis na internet
O acervo de Sandra Jatahy Pesavento inclui documentos, fichamentos de antigas pesquisas e uma biblioteca de quase 5 mil títulos. O material ainda não foi catalogado na íntegra, mas, por iniciativa da família, toda a obra individual de Sandra – artigos publicados no Brasil e no Exterior e livros assinados por ela – já se encontra digitalizado e oferecido gratuitamente na seção dedicada à professora no site do IHGRGS.
– Queríamos nos assegurar de que o conhecimento produzido por ela circulasse abertamente – diz Ana Paula Pesavento Cabral, filha de Sandra, ao comentar a iniciativa. A família prepara ainda o lançamento de um site oficial a respeito da vida e do trabalho acadêmico da autora, reunindo fotos, vídeos, artigos para imprensa, linha do tempo e mesmo materiais mais íntimos.
– Ela fazia muito o que chamava de "carnets de voyage". Como viajava muito a trabalho, sempre escrevia impressões longas e pessoais a respeito dos lugares que visitava, que enviava para a família e amigos – conta Ana Paula.
3ª JORNADA SANDRA JATAHY PESAVENTO
Sábado, das 8h30min às 20h.
Teatro do Instituto Histórico e Geográfico de Rio Grande do Sul
(Rua Riachuelo, 1317, 3º andar)
Inscrições: até o fim desta sexta-feira, as inscrições podem ser feitas no site de crowdfunding oficial do evento (bit.ly/sandrapesavento), fazendo uma doação mínima de R$ 20. No sábado, as inscrições podem ser feitas na hora no próprio Instituto Histórico e Geográfico, mediante uma contribuição espontânea sem exigência de valor mínimo.