Um protesto em quatro atos expôs, na noite desta quarta-feira, a resistência de artistas e intelectuais contrários às medidas do governo estadual que extinguiram fundações e podem extinguir a Secretaria de Cultura em 2017. Intitulado Dia de Arte e Luta a Favor da Cultura, da Pesquisa e da Educação, o evento articulado nas redes sociais reuniu dezenas no Clube da Cultura, em Porto Alegre.
As atividades tiveram início às 17h, com uma oficina de artes plásticas coordenada por Laura Castilhos, e foram seguidas por um sarau que reuniu diferentes gerações da poesia gaúcha. A simbologia da resistência expressou-se já de saída: a poetisa Maria Carpi abriu os trabalhos com o poema Dialética do Não. Após recitar o texto escrito na década de 1980, alusivo à Campanha do Não chilena, ela foi fortemente aplaudida pelos participantes que lotavam a sala principal do Clube de Cultura, na Rua Ramiro Barcelos.
Leia mais:
Grupo de intelectuais e artistas lança carta contra a extinção de fundações
Extinções de fundações viram batalha jurídica para o Piratini
Justiça proíbe demissões sem acordo em mais cinco fundações
Liminar proíbe Estado de demitir funcionários da Corag sem negociar com sindicato
A poetisa Laís Chafe aproveitou sua fala para recitar dois textos publicados em livros editados pelo Instituto Estadual do Livro em parceria com a extinta Companhia Rio-Grandense de artes Gráficas (Corag). Ela destacou a importância da parceria entre o instituto e o órgão recém-encerrado pelo pacote de medidas do governo Sartori para a literatura gaúcha. Juliana Meira, Sandra Santos, Eliane Marques, Sidnei Schneider e Diego Grando também recitaram poemas.
O escritor e músico Álvaro Santi, que escolheu para a ocasião Castro Alves do Brasil, de Pablo Neruda, acredita que a ação cultural organizada é importante para "marcar posição" e mostrar argumentos em defesa dos órgãos vinculados à cultura.
– Esse evento tem a ver com o momento de articulação em defesa de coisas concretas que são importantes para a cultura, não só no Rio Grande do Sul, mas no próprio Minc, como a redução de verbas – afirma Santi.
Segundo o poeta e músico Alexandre Brito, um dos organizadores do evento, a intenção era realizar um ato "propositivo", em que os artistas e intelectuais pudessem debater caminhos para a mobilização política em defesa da cultura, e referendar a carta aberta da classe artística contra o pacote do governo estadual.
– O que está acontecendo aqui no Rio Grande do Sul está deixando as pessoas todas pasmas. Precisamos pensar o que fazer diante desse momento, mas não sabemos ainda que dimensão isso vai tomar – avalia.
Após o sarau, o jornalista Moisés Mendes e o escritor Luís Augusto Fischer protagonizaram a mesa redonda Cultura para quê?, mediada pelo jornalista Flávio Ilha. O Ato se encerrou com o pocket show Música de Protesto, com Dudu Sperb e Toneco da Costa.