Aos quatro anos de idade aprendi a manusear o aparelho VHS. Meu pai me ensinou. Quando começava o programa, eu ia lá e apertava o botãozinho vermelho escrito REC. Sentar diante da televisão para assistir Chaves é uma das lembranças mais remotas que tenho da vida. Minha festa de aniversário de cinco anos, na creche, foi temática, com direito a fantasia do Chapolin Colorado (e os aniversários seguintes também sempre tiveram alguma referência aos seriados de Roberto Gómez Bolaños). Sempre admiti com um pouco de timidez que era fã de Chaves, mas com a chegada da Internet na minha casa, lá por 2001, encontrei diversos outros fanáticos iguais a mim. Naquele momento entendi que dar risada com aquele programa tosco era algo comum para milhões de brasileiros.
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Passei a minha infância e a minha adolescência frequentando fóruns de discussão sobre Chaves na Internet. Esta relação fez com que eu me aproximasse de dubladores, pessoas ligadas à Televisa e, para a minha sorte, de atores que compuseram o elenco do seriado. Conheci Roberto Bolaños (Chaves), Florinda Meza (Dona Florinda), Edgar Vivar (Senhor Barriga), Ana De La Macorra (Paty), Carlos Villagrán (Kiko), Maria Antonieta de Las Nieves (Chiquinha) e até mesmo quem já tinha partido (sim, fui até o cemitério onde estão os túmulos do Seu Madruga e da Bruxa do 71, fazer uma "visita").
Rubén Aguirre, o Professor Girafales, foi um dos últimos atores que conheci pessoalmente. O encontro ocorreu em um evento chamado "America Celebra Chespirito", organizado pela Televisa, em 2012, no Auditório Nacional da Cidade do México. Foi uma homenagem feita pela emissora e transmitida ao vivo para 16 países (no Brasil, em função do idioma, foi legendada e exibida alguns dias depois). Ganhei um concurso no site do evento e a Televisa me presenteou com a viagem. Durante um intervalo, me aproximei do palco onde estavam os atores, acompanhado por alguns amigos brasileiros e fomos ao encontro de Rubén. Ele nos saudou em um português esforçado e respondemos em espanhol:
- Olá amigos do Brasil!
- Hola Maestro Longaniza! ("Mestre Linguiça" em espanhol).
- TÁ TÁ TÁ TÁ TÁ!
Um dos brasileiros o presenteou com uma maça (como faziam na escolinha), ele deu muita risada e agradeceu. Já naquela época, Rubén tinha alguns problemas de saúde e certa limitação para caminhar. O cumprimentei e pude perceber suas mãos (que tinham o dobro do tamanho da minha) tremendo muito. Naquela época ele já não assinava mais autógrafos, por conta deste problema. Na foto que registra o momento estou ao lado dele (que de tão alto quase foi cortado da imagem) e ao lado de Edgar Vivar, o Seu Barriga.
Foi uma experiência única. Conhecer um ídolo é algo indescritível. Neste caso em específico foi um momento muito emocionante (pelo contexto da homenagem, por estarmos em outro país) e também um momento de extrema compaixão, pois o ator já estava bem velhinho e com problemas de saúde. Anos mais tarde acabei me tornando produtor de eventos e tive a sorte de trabalhar com vários do elenco, quando vieram ao Brasil. Tentamos trazer o Rubén diversas vezes (o próprio SBT tentou), no entanto, infelizmente, nunca foi possível, em função da sua limitação para caminhar e dos problemas de saúde que ele vinha enfrentando nos últimos anos.
Dia muito triste. Aos poucos cada vez mais pedaços da nossa infância vão partindo deste mundo e ficando apenas na lembrança.
Descanse em paz, Mestre Linguiça.