Não vejo má intenção no discurso de Jair Bolsonaro. Esse é o maior problema. O presidente acredita profundamente em tudo o que disse: que há exagero, que isolamento total é um erro, que a economia é que deve ditar as decisões.
Bolsonaro realmente está convicto de que tem razão. Se fosse apenas algum plano escuso, uma intenção sombria, seria mais fácil. O presidente, no seu discurso estapafúrdio feito em rede nacional de tevê, tinha aquele brilho estranho nos olhos, aquele brilho dos que se julgam iluminados e portadores de uma verdade quase sagrada.
Fico aqui me perguntando como reagir a isso. A melhor resposta, até agora, está dentro do próprio governo, onde ministros, especialmente o da Saúde, sequer comentam os desatinos do seu chefe. Jair Bolsonaro vai perdendo autoridade, dentro da sua própria equipe.
Se existe algo que me surpreende, é a surpresa de alguns. Bolsonaro sempre foi exatamente isso. Destrambelhado e cognitivamente limitado. Só que, agora, ele é o presidente eleito do Brasil. Enquanto parte do seu governo resistir, sem bater de frente com ele, haverá esperança. Por mais estranho que pareça, a melhor forma de neutralizar os desatinos do presidente no combate ao coronavírus é fortalecer a parte lúcida do seu governo. Os que falam e os que estão calados, mas agindo na direção correta.
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