Um protótipo de uma máscara facial completa, de plástico, levaria bem mais de seis meses para ficar pronto. A Engenharia e o Design da UFRGS conseguiram passar por todo o processo - do projeto à aprovação, incluindo testes com profissionais da saúde - em uma semana. O tempo recorde não é obra do acaso, mas sim de um dos grandes aprendizados gerados pela pandemia de coronavírus: trabalhar em rede e de forma cooperativa é muito mais eficiente do ponto de vista econômico e humano.
O sucesso da Engenharia da UFRGS começa com a criação de grupos virtuais e plurais de trabalho, bem mais ágeis nesse tipo de situação. A partir deles, as peças da máscara foram sendo projetadas. A velocidade dos contatos possibilitou que médicos e empresas se somassem à iniciativa. Já há pelo menos três interessadas na produção em grande escala da máscara desenvolvida pela universidade, que conseguiu encurtar o processo de fabricação e encontrar as matérias primas mais baratas. O custo de cada unidade fica ao redor de R$ 10,00 para as impressas em 3D e de R$ 5,00 para as injetadas.
Esse tipo de máscara, que cobre integralmente o rosto, é um item escasso nos países com estágios mais avançados de contaminação. Por isso a escolha pela sua produção, adiantando uma pressão de demanda que virá ainda maior nas próximas semanas. Ela é usada por profissionais da saúde na hora de intubar pacientes graves. É comum haver respingos durante o procedimento, o que exige maior proteção para médicos e enfermeiros. Os projetos e especificações serão disponibilizados gratuitamente para outras instituições e empresas através do site www.ufrgs.br/lamef.
Outro fator decisivo para a agilidade do processo foi a flexibilização da burocracia pela Agência Sanitária de Vigilância Sanitária, a Anvisa. Exigências e procedimentos que só criavam obstáculos inúteis foram retirados, encurtando caminhos para pesquisadores e empreendedores.
Chama a atenção também a integração entre universidade pública e empresas privadas, que trabalharam juntas em fases diferentes do projeto. A distância entre a academia e setores econômicos da sociedade é um tabu inventado pelo ranço ideológico que a crise está nos ajudando a superar. "Quando existe um objetivo comum, o engajamento aumenta muito", observa o professor da Engenharia da UFRGS Marcelo Favaro Borges. Também o reitor, Rui Oppermann, apoia o envolvimento integral da instituição no esforço de combate à pandemia.
O próximo desafio do Laboratório de Metalurgia Física da Escola de Engenharia da UFRGS, já em andamento, é bem mais difícil. Respiradores estragados e sem possibilidade de conserto foram doados pelo Hospital de Clínicas. Os equipamentos foram desmontados e cada peça mapeada, um processo conhecido como engenharia reversa. A partir daí, a ideia é buscar componentes da indústria nacional e desenhar soluções criativas, de baixo custo e aplicáveis para a fabricação desse equipamento, cada vez mais necessário daqui para frente.
Em uma semana, a UFRGS já avançou nessa frente mais do que conseguiria em meses de trabalho nas chamadas "condições normais". Ao que parece, existe um novo normal na sociedade brasileira, bem mais ágil, cooperativo e focado em resultados.