Ele fez, nos Estados Unidos, o que a esquerda brasileira já poderia ter feito aqui: a análise do fracasso. Mark Lilla desembarca em Porto Alegre para a última conferência do ano do Fronteiras do Pensamento, na segunda-feira.
Em 2016, ele escreveu um artigo publicado pelo The New York Times. Foi um incêndio. Lilla afirmou que os democratas perderam para Trump, em grande parte, porque se fixaram em uma política identitária composta por discursos isolados de minorias que não conversam entre si. De acordo com Lilla, três eixos sustentam essa visão de mundo. São as identidades sexual, de gênero e de raça. Enquanto isso, Trump percebeu o vácuo e atacou os problemas que atingem a todos, inclusive as minorias: emprego, segurança e saúde.
Fica ainda mais simples de compreender se analisarmos um maiores desafios da sociedade urbana inclusiva pós-moderna: os banheiros em locais públicos. O leque de identidades de gênero ainda motiva debates acalorados sobre o tema. A tal ponto que, hoje, parece haver apenas dois caminhos. Ou teremos um banheiro para cada identidade ou apenas um banheiro para todas.
Conversei durante a semana sobre Mark Lilla com os professores Rodrigo de Lemos, doutor em Letras pela UFRGS, e Carlos Gadea, pós-doutor pela Universidade de Miami. Está la no Youtube.
Lá pelas tantas, lancei o exemplo dos banheiros. Gadea nem precisou pensar. Enquanto a esquerda se preocupa demais com os banheiros, a direita fala em segurança, em emprego e tem uma visão clara de país.
Mark Lilla é um liberal. Nos EUA, significa ser de esquerda. Por isso sua artigo gerou tanto barulho. Na segunda-feira, dividirá o palco com filósofo pop brasileiro Luiz Felipe Pondé. Uma boa oportunidade para refletir e compreender o novo desenho do nosso velho país.
No Brasil, além dessa análise de agenda política, há também a da corrupção. Nenhuma das duas mereceu até agora um enfrentamento realmente honesto dos seus atores principais.