"Muita gente apostou na nossa separação", lembra Neuza Celina Canabarro Elizeire, uma das primeiras-damas mais poderosas da história do Rio Grande. A voz não revela mágoa nem raiva. O tom é de quem sempre soube. O romance iniciado na década de 80 entre a trabalhista de Santana do Livramento e o político experiente, 18 anos mais velho, era para sempre.
Além da diferença de idade, havia a questão racial. Ela, loira. Ele, afrodescendente. Quando Alceu de Deus Collares foi eleito governador, em 1990, era comum escutar nas rodas de conversa da Capital: “Assim que ele deixar o poder, toma um pé na bunda”. Não aconteceu.
Neuza e Collares completaram 34 anos de casados. Ele, aos 90, se recupera de um câncer. Ela, 72, se dedica de forma comovente a cuidar dele. "Não nos desgrudamos. Até quando vou ao salão fazer pé e mão ele vai e faz comigo." Collares também acompanha de perto a mais nova empreitada da companheira: a montagem de um tambo no sítio dela, o Rincão dos Rebeldes. "Fiz um financiamento no Sicredi, já tenho 122 vacas holandesas e autorização para produzir rapaduras, iogurtes, sorvetes e doce de leite", revela, com orgulho. As máquinas estão chegando da Suécia. A marca: Santa Celina, nome que tem em comum com a mãe e a filha.
Na década de 1990, acumulando as funções de primeira-dama e de secretária da Educação, Neuza Canabarro foi centro de várias polêmicas. A maior foi a do calendário rotativo, sistema que pretendia deixar as escolas abertas 12 meses por ano e, com isso, aumentar a oferta de vagas. Enfrentou uma resistência feroz do Cpers. Promoveu uma barulhenta reforma em um banheiro da ala residencial do Palácio e comandou a implantação do turno integral em escolas públicas. Sua influência se fazia sentir não apenas junto ao governador, mas em todo o governo.
Na sexta pela manhã, ao acordar, Collares olhou para ela e disse: "Como tu estás linda". Ela, como sempre, gostou. E devolveu o carinho em forma de brincadeira. "Tu estás precisando de óculos". Ele já usa.