Alguns anos atrás, publiquei um pequeno texto quando o jogador Giuliano, do Grêmio, escolheu o 88 para a sua camiseta. Nele, alertava para o fato de que esse número também era usado como uma saudação nazista – uma forma camuflada de identificar “Heil Hitler”, já que H é a oitava letra do alfabeto: HH = 88. Os neonazistas usam, é fato.
Até hoje recebo críticas, a maioria bem humoradas. Refletindo sobre o episódio, me dei conta de que, para a avassaladora maioria das pessoas, entre elas Giuliano, a relação que eu fiz não tem qualquer sentido. Parece absurda, ridícula, forçada. Entendo e acato.
Sou neto de um ex-prisioneiro de campo de concentração na Alemanha nazista e, por isso, tenho hipersensibilidade ao tema. Por isso me dei conta, depois, de que essa é uma questão sem a dimensão coletiva do que sinto, individualmente.
Volto ao assunto porque, no começo da temporada, Patrick, um outro jogador, dessa vez do Inter, escolheu o mesmo 88 ao desembarcar em Porto Alegre. Senti o mesmo desconforto. Mas aprendi com a polêmica anterior.
Retomo o tema porque tenho sido instigado. E como trabalho para os leitores e internautas, me sinto na obrigação de explicar o que penso, o que sinto e o que aprendi. Na China, 8 é sorte. Para os judeus, 18 é vida. No Brasil, 13 dá azar. Números. Cada pessoa e cultura os percebe de uma maneira.
Convivo com ele, sem maiores sobressaltos, mas não gosto do 88. Me faz lembrar coisas ruins. Entendo que ele tenha outras dimensões. A alegria do gol, duas vezes infinito na sua forma vertical, duas minhocas enroladas ou a idade de um avô. Pensei 87 vezes antes de voltar ao tema. E aí decidi. Por que não?