CONTINUE LENDO O INFORME ESPECIAL DESTE FIM DE SEMANA (11/2 e 12/2)
O MAIOR SÍMBOLO DA MUDANÇA
O futebol é o Brasil. A técnica, o talento. A malandragem, a caixa-preta na gestão dos clubes. Só vou acreditar que o país mudou de verdade no dia em que ela for aberta. À força. Tipo gol de centroavante trombador.
Nada encarna de forma mais exata o que temos de bom e de ruim. Um amigo contou, faz algum tempo. Ele trabalhava em um grande clube brasileiro. Fora contratado para botar ordem na casa. Profissionalizar a gestão. Um dia, entra um diretor na sala dele com um papel na mão. "Temos que pagar amanhã um milhão pro jogador tal." Como assim? Não está no meu fluxograma. Não está previsto. Não sabia de nada. O diretor explicou: "É um acerto direto que o departamento de futebol fez com ele". Meu amigo não aguentou. Aplicou cartão vermelho nele mesmo.
Essas complicadas transações entre empresários, clubes e atletas são tudo, menos transparentes. Generalizar é sempre ruim. Há bons exemplos de seriedade. Mas com a CBF de guarda-chuva, fica difícil. A CBF é mafiosa. Sempre tem razão, mesmo quando não tem. Pune quem discordar, persegue quem levanta a voz contra os seus desmandos.
Uma situação análoga à das relações entre empreiteiras e governo.
Alguém perguntou como era possível que todas as grandes empreiteiras estivessem envolvidas em esquemas de propina. A lógica é outra: se não estivessem envolvidas em esquemas de propina, não seriam grandes.
Os valores envolvidos no futebol são bem menores. Mas o símbolo é mais forte. Gestões irresponsáveis, negócios nebulosos, retrancas intransponíveis. O futebol continua flutuando em um mundo próprio. Cria as suas leis e as suas práticas como se a única coisa importante fosse ganhar títulos. A impunidade é garantida pela paixão das multidões. Uma espécie de gigantesco escudo humano que assusta as instituições fiscalizadoras.
É preciso coragem para acabar com essa farsa.
É preciso que alguém levante a bandeira certa: sem seriedade, ética e gestão, a paixão vai morrendo aos poucos. É só olhar para a Seleção, que era nosso maior orgulho até que passou a se preocupar mais com os negócios do que com os torcedores.
É burrice não saber que os torcedores são o negócio. Por isso, merecem mais atenção e consideração.
Não são os jogadores, nem os jornalistas, nem o treinador, nem os empresários, nem os anunciantes. O futebol só existe porque existe a torcida. É preciso uma faxina urgente. É preciso que surja um Sergio Moro com coragem para enfrentar os zagueiros toscos com caras de mau. Para enfrentar a conivência entre dirigentes e bandos que se autointitulam "torcidas organizadas".
Os juizados especiais dentro do estádios são um passo. Mas falta muito. A escolha é nossa: ou o jogo está recém começando, ou já acabou e a gente não se deu conta ainda.
Leia também
Lava-Jato crê em operação abafa articulada por Planalto e Congresso
Seleção brasileira feminina garimpará jogadoras pelo país
Justiça pede prisão preventiva de ex-presidente do Peru no caso Odebrecht
DUAS PERGUNTAS
Túlio de Oliveira Martins, presidente do Conselho de Comunicação do Tribunal de Justiça do Estado:
1. Do ponto de vista do Judiciário, qual o significado do uso dos rendimentos dos depósitos judiciais pelo Executivo?
O Judiciário considera que o uso do dinheiro dos depósitos judiciais pelo Executivo demonstra uma solidariedade concreta. Tais saques hoje somam mais do que o triplo do orçamento anual da Justiça, em um total de nove bilhões e oitocentos milhões de reais, aproximadamente. Além disto, o Judiciário abriu mão – em benefício do Executivo – de metade dos rendimentos de tais depósitos ao longo de quatro anos, o que significa um aporte significativo de recursos sem custo financeiro.
2. Por que o Tribunal de Justiça decidiu dar publicidade à retirada de R$ 200 milhões, já que a prática é antiga e usual?
Na abertura do ano judiciário, o presidente (Luiz Felipe) Difini apresentou aos colegas e à sociedade um panorama da situação financeira do tribunal, dentre outros assuntos. Observando atentamente o princípio da transparência e o debate que se travou sobre o repasse dos duodécimos, aproveitou para destacar o exemplo das contas de janeiro, em que o saque dos depósitos foi superior ao valor transferido ao Judiciário por regra da Constituição da República. O Tribunal de Justiça está empenhado na solução da crise econômica do Estado, colabora de forma muito concreta e objetiva e presta contas à sociedade.
RECONHECER
De férias no Rio de Janeiro, a colunista Rosane de Oliveira envia uma valiosa contribuição ao Informe Especial.
Quem visitar a exposição Lugares do Delírio, no Museu de Arte do Rio (Praça Mauá, 5), em fevereiro, vai encontrar obras de artistas especiais do Rio Grande do Sul. São alunos da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, coordenada pela psicóloga e artista plástica Bárbara Neubarth.
Entre os artistas com trabalhos expostos, estão Luiz Guides e Natália Leite. Ela, que frequenta a oficina desde o começo, há 26 anos, foi levada para a abertura da exposição. Andou de avião pela primeira vez. E adorou a sensação de voar para além dos muros do São Pedro. Bárbara também participou de debate com a curadora Tania Rivera sobre o documentário Epidemia de Cores, em cartaz no cine Joia, em Copacabana.
INCÓGNITA
O ministro Eliseu Padilha concorda que não deve haver surpresa na lista de envolvidos nas delações da Odebrecht. Mas explica por que o sigilo é importante do ponto de vista das investigações:
– Todo mundo sabe o que fez, mas ninguém sabe o que foi contado.
MARCO POLO
Quem acompanha o ex-prefeito de Canoas Jairo Jorge pelo Twitter já se deu conta: 2018 começou. Jairo tem viajado constantemente, fazendo contato com eleitores e com as lideranças do PDT.
REPASSE
O deputado federal Jones Martins, do PMDB, apresentou na Câmara um novo projeto de lei. A ideia é repassar o dinheiro apreendido do tráfico de drogas a entidades focadas na recuperação de dependentes químicos.
BARÁ
O Mercado Público de Porto Alegre é a principal referência geográfica para as religiões afro-brasileiras na Capital. Qualquer concessão à iniciativa privada deve respeitar essa manifestação de fé.
GRADUAL
Empresas e poder público garantem: não haverá demissão de cobradores de ônibusna Capital. Apenas novos profissionais não serão contratados. Sofreremos todos, como sofreram nossos avós quando os acendedores de lampião foram trocados pelos interruptores de energia elétrica.
TRIBUNA – AQUI, O LEITOR TEM A PALAVRA FINAL
Referente à nota "Carnificina", na qual cita que 200 pessoas foram assassinadas na Região Metropolitana neste ano, os bandidos devem ser excluídos dessa estatística. Ou a estatística deveria ser: quantas vidas foram poupadas neste ano com a morte desses bandidos?
rfambros
Sobre a opinião de que chamar as isenções do transporte público de gratuidade é um erro, já que os demais usuários pagam a conta:
Não entendi a lógica que você desenvolveu na nota. É gratuidade, sim. Uns pagam "a mais" para outros terem o serviço grátis. É isso ou estou ficando louco?
Sérgio Lucas
Sobre a foto de dois homens jogando gamão na Faixa de Gaza:
Poderias me explicar (ou não) o propósito da foto FAIXA DE GAZA na sua coluna? Ao fundo aparece um complexo imobiliário ao redor de uma área que parece devastada. Pode até não ser, mas é o que vai parecer ao leitor que seguidamente sofre lavagem cerebral e acredita que Gaza, hoje sob administração total do Hamas, está sob fogo israelense. No entanto, sabemos que Gaza não é somente escombros, não é mesmo? Então, em que acrescenta a foto em questão? Uma foto da vida moderna de Gaza, com seus shoppings e edifícios modernos traria muito mais informação aos seus leitores.
Dani Laks