Ninguém é dono da palavra. A palavra é viva. Seu significado muda e evolui. Não há controle. Minha amiga Tânia Carvalho, faz algum tempo, foi chamada pela polícia porque disse, no ar, um palavrão inaceitável: "Desbunde". Cada vez que a Tânia conta, caímos na gargalhada. Mas era sério na época. Muito sério.
Meu lado "professor Moreno" poderia buscar outros exemplos. Mas chega de nariz de cera, antiga gíria do jornalismo usada para descrever introduções grandes, chatas e que não levam a lugar algum.
Admito o meu deslize. Precisava dele para falar sobre o nazismo. Um tema que me é caro pela história familiar. Já contei. Mas sempre – espero – tem alguém chegando pela primeira vez. Meu avô materno, judeu alemão, foi prisioneiro em um campo de concentração. Dachau, que visitei com ele quando eu era adolescente, e o opa Erwin ainda lembrava de tudo. Uma experiência marcante. Por isso, sei que tenho hipersensibilidade ao tema que, para muitos, é apenas mais um.
O nazismo é uma ideologia racista, que prega a aniquilação das raças consideradas inferiores, dos homossexuais, das pessoas com deficiência e, de carona, dos comunistas e inimigos em geral. Mais de 50 milhões de pessoas morreram em consequência direta dessa loucura. Entre as vítimas, muitos alemães inocentes.
Sob o comando de Adolf Hitler, a Alemanha montou uma máquina de extermínio para acabar com todos os judeus – para Hitler, qualquer um que tivesse apenas um avô ou avó "impuro". Seis milhões foram assassinados. É tão brutal, que fica difícil de acreditar. Mas aconteceu.
Setenta e dois anos depois da derrota da Alemanha, Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos. Vem sendo, desde antes da posse, comparado a Hitler. "Trump é nazista." "O nazismo está de volta." Cito a introdução do texto: ninguém é dono da palavra. Mas essa linha é torta. E equivocada.
Trump pode ser um maluco. Um nacionalista desvairado. Um populista radical. Mas não é nazista. Trump não defende o extermínio total dos mexicanos ou dos muçulmanos. Não confinará chineses em guetos. Nem atacará o Canadá.
Chamar o que acontece hoje nos EUA de nazismo é vulgarizar um dos momentos mais sombrios da história da humanidade. Mais do que isso: é desinformar e deseducar milhões de pessoas. O passado exige algum senso de responsabilidade semântica. Para que o futuro possa significar alguma coisa.
CONTINUE LENDO O INFORME ESPECIAL DESTE FIM DE SEMANA (28/1 e 29/1)
ARGUMENTOS DE VENDA
Adoro ler rótulos, especialmente dos produtos de higiene pessoal e de alimentação. Virou uma diversão, sempre pautada pelo respeito aos milhões de neurônios gastos para nos brindar com informações de absoluta clareza e relevância. Alguns exemplos reais:
– Estava lá no rótulo de um xampu – "Sem sal". Obrigado, eu já estava pensando em esfregar na picanha.
– Impressionante a quantidade de cremes para a pele "testados dermatologicamente". Eu compraria, sem pensar, um que fosse "testado psiquiatricamente".
– Encontrei um esfoliante corporal com "pérolas azuis de vitamina E". Seja lá o que for, prefiro as vermelhas.
– E estas duas: um sabonete de pitanga com um aviso surpreendente no rótulo: "Contém pitanga". Um outro de cacau que alerta, para meu espanto: "Contém cacau".
– Tem também um "spray para cachos definidos". Para cachos indefinidos custaria mais barato?
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– Uau! Repelente KIDS... "especial para crianças".
– O achocolatado com "Active Go". Não sei o que é, mas comprei vários.
– O hidratante com Hydra QJ. Deve ser uma homenagem ao pai do dono, seu Querêncio Jardim. Ou, vai saber, ao empresário e produtor Quincy Jones.
– Creme de barbear com tecnologia "Ultra Glide", prima do Paraglider.
– A única coisa realmente importante quando você pega uma água mineral é saber se ela é com ou sem gás. Só de sacanagem, a informação é quase sempre minúscula. Pra gente ficar rodeando a garrafa em frente à prateleira com cara de tonto.
– E a minha favorita: um outro repelente que traz no rótulo, bem grande, a palavra "proteção". Ufa! Se não me avisam... Chora, mosquito!
Aceitamos contribuições! Mas só serão publicadas as que vierem com o famoso e imprescindível "IE factor".
TRIBUNA – AQUI, O LEITOR TEM A PALAVRA FINAL
Sobre a nota publicada um dia depois da posse de Donald Trump:
Dizer que "o mundo não acabou" com ar de deboche após a posse de Donald Trump é simplesmente uma canalhice.
@jorgescolaa (Twitter)
Sobre o reconhecimento da coluna às medidas corretas tomadas pelo governo Temer:
As pessoas pegam no pé do Temer porque nem tudo o que ele no passado fez está certo e elogiar para que, se tu o fazes quase todos os dias, sei lá por quê...
Vera Miotto
Reflexões de um leitor sobre educação:
Tenho 86 anos, sou professor de física, lecionei física e matemática em entidades privadas e estatal. Fui diretor e vice de escolas do Senai… também fui diretor de duas escolas estaduais… fui o primeiro especialista em controle de qualidade de couros e calçados no país. Além disso, estagiei na Alemanha e na França. (…) Recordo que nas décadas de 50 e 60 nós tínhamos a melhor educação do Brasil. (…)Vos digo com toda a segurança que, com essa estrutura administrativa estatal, nunca vai funcionar bem. Quando tem uma coisa, falta a outra, e assim por diante, sempre em dificuldades materiais ou humanas. Além disso, envolveram as escolas estatais em política, ai é o caos total. Nas décadas de 50, 60 e 70, o professor era uma autoridade dentro da sala de aula(…). Hoje, o professor não tem autoridade nenhuma e os alunos agem como querem. Foi o sistema montado no país de acabar com a autoridade em geral. No passado, se ganhava pouco mas havia o respeito ao mestre.
Fred Jeckel
Sobre a demora na escolha de nomes para a equipe de Nelson Marchezan:
Na verdade, não é a lógica dos currículos. É pura "enrolação". Na campanha, a lógica era de ligeiro, no ritmo do mercado. Desde novembro e dezembro para trabalhar currículos e perfis? E nada. Final de janeiro e nada.
Pura enrolação e amadorismo.
Paulo Ritter