Há alguns meses, meu amigo Zé Victor Castiel me convidou para fazer uma participação em um espetáculo de teatro. Faltava muito tempo. Nem pensei direito. Disse que sim.
Segunda-feira passada, o Zé me liga e pergunta: "Tudo certo pra quinta-feira?". "O que que tem quinta, Zé?". Era a minha estreia.
Passei a semana nervoso. A missão era das difíceis: contar uma piada no meio de um espetáculo recheado de craques do humor – Oscar Simch, André Damasceno e Lucas Krug entre eles. E o Pedro Ernesto Denardin, que cantou.
Um dia antes, sentei com o Zé para ensaiar. Minha piada não poderia ter palavrões, nem preconceito contra minorias, nem violência. Encontramos uma adequada. Treinei várias vezes. Era uma piada curta.
Detalhe que omiti até agora: sou um péssimo contador de piadas. Não tenho ritmo, começo a rir antes do fim, esqueço a metade. Por isso, fui convidado. Para que rissem da minha falta de jeito.
Cheguei cedo ao teatro da Amrigs. Ensaiei mais uma vez. Às nove em ponto, o Beretta e o Zé entraram em cena e começaram a desfilar suas tiradas. O público rolava de rir. E eu, gelado. Me senti como o cara que teria de vestir a 10 do Santos depois do Pelé.
Minha hora foi chegando. Chegou.
Entrei. E, é óbvio, esqueci a piada. Acho que ninguém notou. Mas eu, sim. O Zé ficou puxando assunto e só consegui perguntar: "É pra começar, assim?". O Zé não perdeu a chance: "Isso, e pode começar pelo fim".
Talvez tenha sido o choque. Aconteceu. Obrigado, Senhor. Lembrei. Era mais ou menos assim:
"Outro dia, encontrei um amigo que completou 25 anos de casado. Ele me contou que, para comemorar, levou a mulher pro Japão. E aí eu disse pra ele: cara, não quero me meter na tua vida, mas não é meio demais? É longe, é caro. E, se aos 25 de casado tu levou a tua mulher pro Japão, o que vai sobrar pros 50, pras bodas de ouro? E aí meu amigo respondeu: aos 50, eu volto lá e busco ela".
As pessoas riram. Certamente de pena, por pura generosidade. Obrigado a todos. Como eu não esperava as gargalhadas, me assustei. Tanto, que saí pro lado errado.
O Zé me interceptou no meio do caminho, me deu um abraço e me empurrou pro lado certo, o da saída.
Foi assim que aconteceu a minha estreia no teatro e, para alegria do público, também a minha despedida.
Veja o video da minha estreia - e ao mesmo tempo despedida - na carreira de ator.