No linguajar dos policiais de antigamente, pode-se dizer que "caiu a casa" de Jair Bolsonaro.
A operação desencadeada na manhã desta sexta-feira (11) pela Polícia Federal, com busca e apreensão na casa do general Mauro César Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, mostra provas irrefutáveis de que joias doadas quando Bolsonaro era presidente foram vendidas nos Estados Unidos e recompradas para entregar ao Tribunal de Contas da União (TCU) como se nunca tivessem saído do acervo pessoal.
As trocas de mensagens resultantes das quebras de sigilo do telefone de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e uma espécie de faz tudo da família Bolsonaro, indicam que Bolsonaro orientou as negociações e que nada foi feito sem o seu conhecimento. Isso significa que Bolsonaro mentiu quando disse que nunca se apropriou dos presentes valiosos recebidos à época em que era presidente.
Os documentos liberados pelo ministro Alexandre de Moraes (leia a decisão abaixo) mostram que Bolsonaro, Cid e outros funcionários do Planalto atuaram para desviar presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República. As investigações apontam ainda que as joias foram levadas para os Estados Unidos no avião presidencial no dia 30 de dezembro, quando Bolsonaro deixou o Brasil rumo a Orlando, na Flórida.
Nos Estados Unidos, as joias foram levadas para avaliação em lojas da Flórida, Nova York e Pensilvânia. Segundo a Polícia Federal, dois relógios foram vendidos por US$ 68 mil, valor equivalente a R$ 350 mil na época.
O Rolex de ouro cravejado de diamantes, recebido de presente por Bolsonaro, foi vendido e recomprado pelo advogado Frederick Wasseff com a ajuda do general pai de Mauro Cid, que intermediou a negociação.
O documento que embasa a operação que apura crimes de peculato e lavagem de dinheiro tem 105 páginas e é rico em detalhes que comprovam as irregularidades. São transcrições de trocas de mensagens, fotos e vídeos.
Em uma das fotos aparece o reflexo do general Mauro César Lourena Cid fotografando esculturas recebidas pelo governo como presente oficial.
Outros presentes foram vendidos e teriam rendido cerca de R$ 1 milhão para os envolvidos. Isso caracteriza enriquecimento ilícito. Alguns dos presentes foram refugados pelas lojas dos Estados Unidos, porque não eram de ouro. É o caso de uma palmeirinha que seria somente banhada em ouro e por isso não interessou aos compradores.
Quais são, afinal, os delitos de Bolsonaro? O primeiro é se apropriar de presentes que seriam do Estado brasileiro e vendê-los no mercado paralelo em outro país. A investigação indica que o departamento encarregado de catalogar os presentes se envolveu na operação para facilitar o desvio dos presentes, numa mistura inaceitável entre o público e o privado.