Poucos sinais são mais evidentes do subdesenvolvimento brasileiro em matéria de educação do que o fato de milhões de crianças chegarem aos 10 anos ou mais sem terem sido alfabetizadas, mesmo evoluindo para as séries seguintes. Não que a solução seja reprovar, porta aberta para o abandono da escola. O compromisso dos governos e dos professores deve ser com a aprendizagem. E isso começa pela alfabetização na idade certa. É nesse contexto que se deve saudar o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, lançado nesta segunda-feira (12) pelo governo Lula.
O ministro da Educação, Camilo Santana, conhece o assunto em profundidade. Sua adjunta, Izolda Cela, também. Por terem administrado o Ceará, um Estado pobre que conseguiu resultados notáveis nessa área, a dupla Camilo e Izolda têm as credenciais necessárias para fazer andar esse ambicioso programa de R$ 3 bilhões em quatro anos, mas não farão milagres se não houver engajamento de governadores, prefeitos, secretários estaduais e municipais de educação, pais e professores.
É sempre mais fácil atribuir o atraso na alfabetização a fatores externos: a família que não acompanha (porque os pais não têm formação mínima), as crianças que chegam à escola famintas, a falta de celulares e de internet de alta velocidade... O que os estudos mais avançados mostram é que toda a criança é capaz de aprender, desde que receba o atendimento adequado. Isso significa alimentação escolar para vencer a subnutrição, material escolar apropriado, professores comprometidos e motivados, infraestrutura nas escolas, atendimento psicossocial.
Alfabetização na idade certa significa que ao final do segundo ano do Ensino Fundamental a criança deverá ter aprendido a ler e a escrever. Se no meio do caminho se constatar que está atrasada, o caminho é dar aulas de reforço e não deixar ninguém para trás.