Porque hoje é Dia das Mães, voltarei a falar da minha na certeza de que mães são universais e que têm alguma coisa em comum. Ainda que a classificação na hora de preencher um documento fosse “do lar”, mãe exerceu dezenas de outras profissões para as quais não tinha sido preparada. Mãe, lá na roça onde nasci, precisava ser autodidata. Antes de se aposentar e virar artesã e jardineira, minha mãe foi de tudo um pouco.
Minha mãe foi “médica”. Homeopata. Com cinco filhos nascidos em casa, de parto normal, vivendo a mais de 30 quilômetros do que se chamava de “recurso”(médico, hospital, farmácia), foi preciso aprender a identificar, sem termômetro, quando um estava com febre. Havia na casa fontol infantil e nada mais, mas vivíamos cercados de plantas curativas.
Gripe? Guaco, mel e limão. Pulmão fechado? Leite quente com funcho e gemada, para soltar as secreções. Dor de estômago e indigestão? Marcela, camomila, losna, carqueja. Dor de barriga? Dependia da provável causa, mas o arsenal incluía hortelã, casca de romã, chá de erva-de-bicho (para vermes). Dor de cabeça? Melissa, que chamávamos de erva-cidreira, folha de laranjeira, erva santa. Minha mãe também foi enfermeira, técnica em enfermagem, psicóloga para dizer que não era e que quando a gente se acalmasse a dor passaria. Se nada funcionasse, recorria às benzedeiras e benzedores: dona Eva do Vitor, Ernesto Libra, especialista em lombrigas, seu Jerôncio, que era generalista, e uma apelidada de Trança Loura que curava míngua e, na dúvida, reforçava a dieta com feijão, couve e beterraba.
Para ajudar nas despesas de casa, minha mãe era modista. Tinha aprendido a costurar aos 15 anos e transformava qualquer pedaço de pano em uma peça perfeita. Fazia vestidos de noiva, bombachas e até sutiãs, à época chamados de “corpinho”. Os retalhos viravam colchas e eram o nosso band-aid em caso de cortes ou esfolados.
Até hoje minha mãe não dirige automóveis, mas guiava um cavalo para ir à vila que hoje é o município de Campos Borges, levando ovos embalados em folha de milho e outras coisas produzidas naquele pedaço de terra para vender na cidade e comprar tecido (dizia-se fazenda), açúcar, sal.
Sim, meus pais eram produtores rurais. Do minifúndio sobrevivíamos e em se plantando tudo dava. Minha mãe dominava a enxada, o machado, a foice e a criação dos animais. E dirigia uma junta de bois ou de cavalos para conduzir a carroça quando meu pai estava ocupado com outras tarefas.
Minha mãe foi mais do que isso. Ensinou os filhos a respeitarem os mais velhos, a acreditarem em Deus, a cumprir todos os 10 mandamentos à risca, a gostar da escola e da família.
Neste Dia das Mães, penso em todas as profissões que as mães exercem no paralelo, sem remuneração, sem diploma e, muitas vezes sem reconhecimento. Sou a mãe feliz do Eduardo e da Luiza, não precisei passar pelos perrengues que a minha passou, mas nossas angústias modernas são comuns: a segurança, o futuro profissional, a felicidade, essa abstração que para cada pessoa tem um significado.