A disputa pela vaga de candidato a governador contaminou a atmosfera no MDB. Não há semana em que não surjam intrigas entre as alas do partido. Como a data final para inscrição nas prévias é 3 de fevereiro, os próximos 10 dias serão decisivos.
Pressentindo uma emboscada, o deputado federal Alceu Moreira busca se reafirmar lançando nesta segunda-feira (24) uma “Carta aos Gaúchos”. Com três páginas, o documento traz uma biografia do parlamentar e as bases do plano de governo, com ênfase na área social.
O que seria uma carta de intenções é na verdade um aviso: o gato até aceita o guizo, mas vai sobrar unhada. No terceiro mandato como presidente da legenda, Alceu não está disposto a vender fácil uma eventual desistência. Há quase um ano ele percorre o Estado como pré-candidato e agora já tem programa e até equipe montada pra começar a campanha. O deputado, porém, nunca contou com a simpatia da cúpula do MDB.
No vácuo de um saudosismo da velha guarda por José Ivo Sartori, cresceu o nome de Gabriel Souza, hoje o favorito na disputa interna. O atual presidente da Assembleia Legislativa chegou a dizer que não enfrentaria Alceu numa prévia, declaração que não mais repete. Gabriel venceu desconfianças e já agrada a Sartori e Pedro Simon, dois dos mais influentes cardeais emedebistas. Cezar Schirmer corre por fora e goza de muito respeito interno, mas sua eventual candidatura ambiciona mais reconstruir a própria biografia depois da tragédia da boate Kiss do que pacificar o partido.
Osmar Terra e Marco Alba também lançaram seus nomes, mas, isolados no partido, são candidatos apenas a tumultuar o ambiente, impedindo uma aliança com o PSDB de Eduardo Leite. Terra, aliás, prefere o MDB sem candidato, no palanque bolsonarista de Onyx Lorenzoni. Diante de tanta confusão, o grupo de notáveis que tenta pacificar a sigla já cogita adiar a prévia para março, quiçá abril.
– Estou vendo muito candidato e pouco projeto – desabafa Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre e um dos coordenadores do grupo.