Antes que o caos se estabeleça no país, prefeitos e governadores terão de convencer o Ministério da Saúde a alterar a fila da vacinação contra o coronavírus e passar os professores à frente dos presidiários. Na lista que o governo federal elaborou no final de janeiro e distribuiu a Estados e municípios, professores da educação básica (creches, pré-escolas, ensino fundamental, ensino médio, profissionalizantes e EJA) estão na 17ª posição. Os do Ensino Superior, na 18ª. Antes dos educadores, vem a “população privada de liberdade” (15º) e os funcionários do sistema de privação de liberdade (16º).
Alguém consegue entender por que o Ministério da Saúde colocou os presos antes dos agentes penitenciários e das próprias forças de segurança? Os policiais conseguiram sair da 19ª posição no grid e avançar cerca de 10 casas, mas os professores seguem atrás dos criminosos, em uma inversão inaceitável, já que estão em isolamento forçado.
Da lista com 27 grupos elaborada pelo Ministério da Saúde para ordenar a vacinação contra a covid-19, metade já recebeu pelo menos uma dose nos Estados e municípios que não inverteram as prioridades por conta própria. Essas 27 categorias somam 77,2 milhões de pessoas. Somente depois de imunizar todas elas é que será retomada a imunização por idade para pessoas saudáveis com 59 anos ou menos.
Nos próximos dias, gestores municipais e estaduais terão de convencer o Ministério da Saúde a passar os trabalhadores da educação à frente dos presos ou assumir o risco de desafiar a ordem estabelecida pelo governo federal, o que alguns já vêm fazendo.
A brecha foi aberta pelo próximo Ministério quando recomendou aos gestores que sigam essa ordem estipulada pelo Plano de Vacinação, de acordo com as orientações do Programa Nacional de Imunizações (PNI), mas ressalvou que “com a lógica tripartite do Sistema Único de Saúde (SUS), estados e municípios têm autonomia para montar seu próprio esquema de vacinação e dar vazão à fila de acordo com as características de sua população, demandas específicas de cada região e doses disponibilizadas”.
A lista de prioridades tem outra contradição inexplicável: as pessoas em situação de rua estão no 14º lugar, mas nada se diz sobre quem trabalha na assistência social e atende pessoas potencialmente contaminadas. Todos os esforços, até aqui, têm sido em vão.
Confira a lista original de prioridades elaborada pelo Ministério da Saúde:
- Pessoas com 60 anos ou mais e que estejam institucionalizadas
- Pessoas com deficiência institucionalizadas
- Povos indígenas vivendo em terras indígenas
- Trabalhadores de saúde
- Pessoas de 80 anos ou mais
- Pessoas de 75 a 79 anos
- Povos e comunidades tradicionais ribeirinhas
- Povos e comunidades tradicionais quilombolas
- Pessoas de 70 a 74 anos
- Pessoas de 65 a 69 anos
- Pessoas de 60 a 64 anos
- Pessoas que possuam comorbidades
- Pessoas com deficiência permanente grave
- Pessoas em situação de rua
- População privada de liberdade
- Funcionários do sistema de privação de liberdade
- Trabalhadores da educação do Ensino Básico (creche, pré-escolas, ensino fundamental, ensino médio, profissionalizantes e EJA)
- Trabalhadores da educação do Ensino Superior
- Forças de segurança e salvamento
- Forças Armadas
- Trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros
- Trabalhadores de transporte metroviário e ferroviário
- Trabalhadores de transporte aéreo
- Trabalhadores de transporte aquaviário
- Caminhoneiros
- Trabalhadores portuários
- Trabalhadores industriais