Horas após ter voltado do Chile, o presidente Jair Bolsonaro iniciou o domingo conversando com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), a quem cabe realizar a articulação política em favor dos projetos do Planalto, principalmente da reforma da Previdência. A impressão que ficou até o início da noite de hoje era de que o articulador oficial do governo tinha como missão, a partir de agora, botar panos quentes na tensão provocada pela troca de farpas entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Saiu do Palácio da Alvorada dizendo que era o momento de aproximação com o Congresso:
– O clima vai arrefecer agora. Existe disposição, a gente vê disposição dos dois poderes aí de aproximar. A semana passada foi uma semana muito tensa e agora a gente vai caminhar para uma aproximação.
Segundo Vitor Hugo, a ideia era “retomar os trabalhos para aprovação da nova Previdência”, começando pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), por onde o texto tem de passar primeiro.
O que o deputado afirmou a jornalistas não foi a mesma coisa que disse à bancada do PSL na Câmara. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o líder do governo encaminhou mensagem logo após o encontro, às 13h30min: “Nosso presidente está certo e também convicto de suas atitudes. Estive com ele hoje pela manhã. As práticas do passado não nos levaram ao caminho em que queremos estar. Todos nós, em particular do PSL, somos agentes para ajudar a mudar a situação em que nos encontramos (...) Somos todos a nova política. Não dá mais”.
A mensagem, que chegou ao conhecimento de Maia horas depois, foi interpretada como um ataque ao presidente da Câmara porque veio acompanhada de link para notícia de 2017, cuja manchete era "Para aprovar mudanças na Previdência, Temer autoriza Maia a negociar cargos”.
Embora não seja seu papel, Maia estava disposto a articular, com o Executivo, a aprovação da reforma, mas desistiu da ideia após receber indiretas de Bolsonaro e de pessoas ligadas a ele.
– O compromisso dele, regimental, é despachar e o projeto andar dentro da Câmara – disse o presidente, no Chile, dispensando o trabalho de Maia como articulador político.
A semana deve iniciar da mesma forma como terminou a anterior, sem avançar um centímetro na diplomacia com parlamentares. Para o Planalto criar base sólida no Congresso, empresários, ministros dispostos a aprovar a reforma da Previdência, economistas e políticos minimamente responsáveis pedem: o governo precisa largar o Twitter e assumir a responsabilidade pelo o projeto.
– Bolsonaro está transferindo para a presidência da Câmara e do Senado uma responsabilidade que é dele. Então, ele fica só com o bônus e eu fico com o ônus de ganhar ou perder. Se ganhar, ganhei com eles. Se perder, perdi sozinho – resumiu Maia.