A rápida adesão do MDB à candidatura de Jair Bolsonaro levou o professor João Carlos Brum Torres, 72 anos, secretário do Planejamento dos governos Antônio Britto e Germano Rigotto, a pedir desfiliação do partido, o único de sua vida .
— Vou sair porque achei grotesco o MDB sair correndo para se atirar nos braços de Bolsonaro. Pode ter sido pragmatismo eleitoral, mas para tudo existe limite. Um homem que escolhe como livro de cabeceira a obra de um torturador como Brilhante Ustra contraria os princípios nos quais eu acredito.
Integrante do Movimento Democrático Brasileiro desde a ditadura, Brum Torres não é o único incomodado no velho MDB. Ex-preso político, João Carlos Bona Garcia também está inconformado com a decisão, e principalmente, com a adesão de líderes como José Ivo Sartori e Pedro Simon.
A entrevista de Pedro Simon ao repórter Carlos Rollsing, explicando a adesão do MDB a Bolsonaro, resultou no rompimento com outro velho amigo, o jornalista Luiz Cláudio Cunha, autor da reportagem que desvendou o sequestro dos uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Diaz e escancarou as estranhas da Operação Condor, acordo que uniu as ditaduras da América do Sul nos Anos de Chumbo.
Luiz Claudio, que foi assessor de Simon por 10 anos, escreveu uma nota dura, criticando Simon e, também, o ex-prefeito e ex-senador José Fogaça, Confira a íntegra:
"Acabei de ler esta entrevista lamentável do Simon. Que vergonha! Inacreditável! O Rollsing fez todas as perguntas certas, o Simon deu todas as respostas erradas... Pedir a um repórter para não fazer uma pergunta é a maior ofensa que se pode cometer contra o jornalismo e a liberdade de expressão.
Ouvir o Simon dizer que não sabe o que o velho Ulysses estaria fazendo neste momento, em relação ao Bolsonaro e seu repertório de sandices e truculências, é um desrespeito à memória e à história do velho comandante que liderou as oposições com coragem e princípios na luta contra a ditadura, que o capitão do PSL resume e simboliza como ninguém.
Estou pasmo que o Simon, que conheceu Ulysses e suas convicções com a proximidade de um companheiro íntimo, tenha dificuldade em traduzir ou presumir a atitude correta do velho comandante diante dessa tragédia iminente.Estou chocado com essa inesperada confusão política do Simon. Lamento ver meu amigo sufocado nesse incompreensível brete político e mental. Os líderes costumam iluminar o caminho com luz nas grandes crises, como fazia Ulysses, não aumentar o breu da escuridão, como faz agora Simon.
O abjeto 'apoio crítico' do Simon ao Bolsonaro lembra muito outra bobagem semelhante, a infame 'imparcialidade ativa' que José Fogaça inventou em 2010 para não se posicionar entre Serra e Dilma. Simon e Fogaça são crescidinhos o bastante para saber que o povo gaúcho deplora, evita, rejeita o muro, a indecisão, a falta de clareza política.
Nessa terra binária, nos orgulhamos sempre de termos um lado: chimangos x maragatos, golpe de 1961 x Legalidade, golpe de 1964 x Jango, MDB x ARENA, ditadura x resistência, Grêmio x Internacional... Nunca optamos por independência ativa, nem damos apoio crítico a avatares da repressão, da violência e da ditadura. Muito estranho que o Simon tenha esquecido as lições mais dignas e gloriosas de nossa História."