De tanto os petistas espalharem a versão de que o ex-presidente Lula está sendo vítima de uma trama diabólica “porque governou para os pobres”, um desavisado que não tenha acompanhado os anos do PT no poder é capaz de acreditar que foram governos de conflito com empresários, bancos e poderosos em geral. Nada mais falso.
Apesar da ligação estreita com governos como o de Hugo Chávez, na Venezuela, e dos irmãos Castro, em Cuba, Lula não adotou receitas socialistas, nem confrontou o mercado. Manteve os pilares da política econômica do governo Fernando Henrique, embora o PT tenha sido contra o Plano Real. Governou de braço dado com os grandes empreiteiros – e essa promiscuidade viria a ser a sua ruína. Os bancos, que o PT na oposição abominava, lucraram como nunca.
Até os adversários reconheciam os avanços na área social, embora criticassem a falta de uma porta de saída para o Bolsa Família. Ninguém digno de crédito reclamou porque os pobres passaram a andar de avião. Ninguém com um mínimo de representatividade criticou o Prouni e outros programas de inclusão social.
Lula governou praticamente sem oposição. Tanto é assim que saiu ileso do mensalão, inocentado inicialmente pelo delator Roberto Jefferson (PTB), que mais tarde mudou de ideia. José Dirceu ficou com a culpa pela compra de apoio parlamentar no mensalão. o ex-presidente restringiu o episódio a um simples caso de caixa 2, reelegeu-se em 2006 e fez de Dilma Rousseff a sua sucessora.
Não foram, portanto, os “interesses contrariados” os responsáveis pela Lava-Jato, mas as delações de criminosos que saquearam a Petrobras. Na impossibilidade de contestar a existência de um esquema bilionário de corrupção na Petrobras, Lula diz que não sabia de nada.
A defesa sustenta que Moro condenou o ex-presidente sem provas, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, embora nunca tenha tomado posse do triplex que negociava com a OAS. É essa a linha mestra da apelação que será julgada no dia 24 no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). O resto é discurso político de candidato em campanha antecipada.