Antes de viajar para a Rússia e a Noruega, o presidente Michel Temer, cujos ministros se comunicam por vídeo para fugir das entrevistas, gravou um pronunciamento para se defender das acusações de Joesley Batista em entrevista à revista Época. Mas a crise não deu trégua. Enquanto o presidente voava rumo à terra dos czares, veio a público o relatório preliminar da Polícia Federal (PF) na investigação sobre Temer e seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que está preso em Brasília. A conclusão é de que houve prática de corrupção passiva.
A PF pediu mais prazo ao ministro Edson Fachin para concluir o relatório. A imputação dos crimes de corrupção passiva e associação criminosa dependerão da perícia no áudio da gravação feita por Joesley na visita noturna ao Palácio do Jaburu, em março.
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O vídeo ficou restrito às redes sociais, para não despertar as panelas adormecidas, se entrasse em rede nacional de rádio e TV no horário nobre. Sem citar Joesley, Temer repetiu o tom da nota divulgada pelo Palácio do Planalto no fim de semana e disse que "criminosos não sairão impunes e pagarão o que devem".
O presidente decidiu processar Joesley por calúnia, injúria e difamação, por ter dito que ele é "o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil". O problema da versão disseminada pelo Planalto de que o presidente foi vítima de uma armação esbarra em um fato incontestável: Rocha Loures, o interlocutor escalado por Temer, recebeu uma mala com R$ 500 mil e negociou propina com Ricardo Saud. A "operação controlada" da PF gravou a entrega do dinheiro, que o ex-assessor só devolveu depois que a delação dos irmãos Batista veio à tona.
Temer está certo quando diz que Joesley é um "criminoso notório". O dono da JBS confessou crimes que deveriam render bons anos de cadeia, não fosse o acordo de delação superpremiada fechado com o Ministério Público Federal. A dificuldade do presidente será explicar por que deu trela a Joesley, promovido de "fanfarrão", nas primeiras manifestações, a "criminoso" nas mais recentes.
O processo contra Joesley faz parte da estratégia de defesa. Não é nem original. Também os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff adotaram a tática de desqualificar os delatores e questionar a investigação.
Aliás
Só quem vive em um mundo paralelo, como os aliados de Temer, pode achar natural uma viagem ao Exterior, em meio a uma crise desta gravidade, com o pretexto de buscar investimentos.