Gestado por um pequeno grupo de pessoas da confiança do governador José Ivo Sartori – todas elas do PMDB –, o pacote de reformulação da estrutura do Estado que será apresentado amanhã enfrentará dura resistência na base aliada do governo. O maior entrave para que o Piratini passe a patrola, como se diz no jargão legislativo, e aprove todas as medidas na Assembleia, já que conta com maioria folgada no parlamento, será o distanciamento entre a cúpula do governo e os partidos que a sustentam, além do timing de divulgação das medidas.
Após quase dois anos de governo, Sartori deve protocolar propostas que já poderiam ter sido efetivadas no início da gestão, quando o governador portava um capital político expressivo, manifestado em uma esmagadora vitória no segundo turno da corrida eleitoral contra o ex-governador Tarso Genro (PT). Agora, depois de ver a popularidade ruir em pouco tempo, a partir dos seus erros e também do aprofundamento da crise financeira, Sartori tentará convencer deputados insatisfeitos e frustrados com o seu governo a aprovarem um pacote com medidas duras.
Apesar de os últimos meses terem demonstrado que o discurso da responsabilidade fiscal pode estar enfim encontrando eco na sociedade – vide a ascensão de partidos e candidatos de centro e centro-direita nas disputas municipais –, ainda é cedo para afirmar que os deputados da base vão apoiar de olhos fechados propostas que deixarão servidores públicos enervados e provocarão fortes protestos.
Nos últimos meses, deputados de partidos que foram decisivos para que Sartori aprovasse projetos, como a elevação das alíquotas de ICMS, mudanças na previdência e a Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual, começaram a ensaiar o desembarque do governo. Dificilmente o PDT – agora de Jairo Jorge, possível candidato da sigla ao Piratini em 2018 – votará a favor da extinção de estruturas públicas. O PP e o PSDB, unidos pela eleição de Nelson Marchezan em Porto Alegre, que criou cisões com o PMDB do governador, também deverão discutir à exaustão o posicionamento em relação ao pacote, já que a dobradinha pode se repetir em 2018.
Com esses ingredientes, além da possibilidade de o PSB também deixar o governo para construir os alicerces para a candidatura de Beto Albuquerque em 2018, o governador e o núcleo duro do Piratini terão de se desdobrar para garantir que pelo menos parte das medidas passe pelo crivo dos deputados no fim de dezembro, quando serão colocadas em votação.