Na 35ª fase, batizada com um nome que remete à máfia italiana – Omertà –, a Lava-Jato levou para a prisão mais um dos generais petistas, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci. A prisão é emblemática e reforça a imagem das peças de um dominó que vão caindo em sequência, pelo toque de uma em outra. Qual será a última a cair?
Foi esse médico de fala mansa e língua presa quem, no posto de ministro da Fazenda, fez a ponte entre o então presidente Lula e os empresários. Era considerado o fiador da estabilidade no governo Lula, mas caiu no turbilhão provocado pela crise da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Voltou revigorado na campanha de Dilma Rousseff, em 2010, e virou chefe da Casa Civil, até cair de novo por não conseguir explicar o aumento de patrimônio e os depósitos milionários em suas contas. A versão de que se tratava de serviços de consultoria prestados ao tempo em que esteve fora do governo não era convincente, mas Palocci conseguiu viver sem sobressaltos até ser fisgado como um dos peixes grandes da Lava-Jato.
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As acusações contra Palocci são tão ou mais graves do que as feitas a seu sucessor na Fazenda, Guido Mantega, preso e liberado na quinta-feira passada. Palocci é tratado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal como o homem que, em troca de propina, manuseava os cordões no governo para beneficiar a Odebrecht em medidas na área econômica.
Com base em planilhas do setor de propina da Odebrecht, mensagens de e-mail e do celular de Marcelo Odebrecht, os investigadores atribuem a um certo “Italiano”, que seria Palocci, o recebimento de espantosos R$ 128 milhões. É esse o total que o juiz Sergio Moro mandou bloquear preventivamente. A divulgação do valor passa a ideia de que Palocci tem esse dinheiro em contas ou em bens, mas não é assim. Moro costuma determinar o bloqueio de todo o recurso que o Ministério Público Federal conclui ter sido recebido indevidamente por um ou mais investigados. Depois, os investigadores vão atrás do dinheiro.
Palocci, como todos os outros líderes petistas presos ou investigados, diz que está sendo vítima de perseguição política.
Aliás
Até na hora de cobrar explicações do ministro da Justiça por antecipar a nova fase da Lava-Jato, em um comício em Ribeirão Preto, o presidente Michel Temer titubeia: a conversa, prevista para esta segunda-feira, foi adiada sem explicação convincente.