Enquanto o cenário político é dominado pelas trapalhadas colecionadas pelo governo Michel Temer em menos de um mês à frente do Planalto, um personagem que domina como poucos o equilíbrio entre se expor com discursos calculados e agir nos bastidores se articula para uma nova cartada. Nesta segunda-feira, em mais um passo da jogada ensaiada com os seus apoiadores, o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), obteve um parecer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que pode livrá-lo da cassação.
Relator da CCJ dá parecer que pode evitar cassação de Cunha
O ponto crucial do documento, elaborado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), é a recomendação de que o plenário da Casa deverá analisar um projeto de resolução elaborado pelo Conselho de Ética, e não o parecer do relator, que recomenda a cassação do peemedebista. A consulta à CCJ foi feita pelo presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que questionou a comissão sobre o rito. Na prática, tudo foi calculado para acabar com a possibilidade de cassação de Cunha.
O projeto de resolução estará sujeito a emendas – ao contrário do parecer do Conselho de Ética – e com um detalhe que faz toda a diferença: as modificações na proposta não podem ser prejudiciais ao parlamentar processado. Ainda há outra recomendação que pode ajudar Cunha. Se o plenário rejeitar o projeto de resolução, o deputado será automaticamente absolvido da acusação de mentir à CPI da Petrobras.
A manobra de Cunha para escapar da cassação se soma a tantas outras que o parlamentar vêm fazendo desde o ano passado. A representação contra o peemedebista foi protocolada no colegiado há oito meses e, até agora, nem sequer o parecer foi examinado pelo conselho. A tendência é de que os deputados integrantes do grupo comecem a analisar o documento final nesta terça-feira.
O desfecho deve ficar para amanhã ou quinta-feira, mas a decisão ficou embaralhada após a consulta feita à CCJ.
Além da possibilidade de derrotar o parecer do Conselho de Ética, Cunha pode escapar por meio do documento da CCJ ou ainda com uma terceira alternativa: a votação de um relatório paralelo, sugerindo pena mais branda. Apesar da expressiva rejeição popular ao presidente da Casa, as articulações com o intuito de livrá-lo da cassação mostram que o cenário é favorável ao peemedebista.