Avesso a entrevistas para o que chama de “grande mídia” desde que seu nome passou a ser citado na Operação Lava-Jato, o ex-presidente Lula conversou nesta quarta-feira com blogueiros de sua confiança e saiu-se com uma pérola da retórica:
– Se tem uma coisa que eu me orgulho é que não tem, neste país, uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem do Ministério Público, nem da igreja, nem do sindicato nem no meio de vocês. Pode ter igual. Mais, eu duvido.
O ex-presidente tem o direito de se defender de acusações concretas e de ilações, mas daí a dizer que não existe no Brasil ninguém mais honesto do que ele é abusar da paciência dos brasileiros. Primeiro, porque ainda não inventaram um honestômetro. Segundo, porque qualquer pessoa que conheça a lógica do financiamento das campanhas sabe que nessas relações é difícil sair imaculado.
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A bravata pode encantar seus seguidores, mas soa agressiva para a maioria dos brasileiros que nunca recebeu um favor de empreiteira, nem se embrenhou nos labirintos da política e das milionárias campanhas eleitorais.
O próprio Lula, à época do mensalão, tentou isentar os companheiros de culpa, dizendo que o pecado do PT foi tão somente a prática de caixa 2, que outros também fazem. Só nessa declaração aparecem traços de conivência com uma situação que pode até ser corriqueira, mas é ilegal. A tolerância com o malfeito não seria um tipo de desonestidade?
Lula tem razão quando aponta indícios de que é alvo da Lava-Jato. A inclusão de seu nome nos interrogatórios, o que vazou das delações premiadas e o que se sabe dos bastidores da investigação é suficiente para concluir que a PF e o MPF estão, sim, virando sua vida do avesso para saber se ele ou os filhos receberam algum tipo de vantagem das empresas investigadas na operação.
– O grande prêmio na delação é falar o nome do Lula. Se não falar, não vale. Já ouvi muito isso. Duvido que neste país tenha um promotor, um delegado, um empresário “amigo ou não amigo” que tenha coragem de afirmar que eu tenha me envolvido em qualquer coisa ilícita neste país – disse Lula aos blogueiros.
O ex-presidente pode não ter se envolvido diretamente em ilícitos, mas é incontestável que no governo dele a Petrobras foi assaltada em tenebrosas transações. Quem nomeou os diretores corruptos?