Catarinense de Navegantes, Letícia Alves, 19 anos, é a 1ª melhor da primeira turma de 114 mulheres que se formaram na sexta-feira (5) fuzileiros navais da Marinha. Ela conversou com a coluna por telefone.
Por que você decidiu ser fuzileiro naval?
Meu pai (Dailson) é sargento do Exército. E por causa dele que eu sempre quis ser militar. Eu já estudava para concursos militares, só que meu pai estava mexendo no celular, certo dia, e viu que a Marinha tinha aberto as portas para gente, soldado fuzileiro naval. Ele falou: “Te inscreve e tenta”. Eu já estudava mesmo e fui fazer a prova. Quando vi, já estava dentro da Marinha.
E você já sabia que o treinamento era pesado?
Já sabia que era 'raladinho'. O nosso cotidiano é muito pesado, sabe? Acordamos às 4h e ficamos até 10, 11 horas da noite.
Quais foram os momentos mais difíceis?
A gente sofre, só que a gente aguenta muito, sabe? É mais sobre a resiliência e resistência que a gente trabalha. Porque se a gente for pensar no quanto dói, a gente desiste de cara. Realmente, não é uma coisa muito adaptada. Até porque não estamos muito acostumadas a carregar tanto peso ou ter uma rotina tão pesada de esforço físico.
E tem o lado emocional, né?
Também, muito. Até porque são quatro meses de formação, e os dois primeiros são de internato. Não sabemos nada do que acontece aqui fora, só se vive para o curso.
Mas ao final o orgulho deve ser grande.
É aquela sensação de enfim, chegou ao fim. Só que ao mesmo tempo acabou de começar a carreira, é uma sensação muito mista. De que acabou tudo, só que acabou de começar também.
O que foi fundamental para você para ser a número 1 da turma?
Antes mesmo de entrar, meu pai foi o 01 da turma dele. Ele falava: “Não quero nada menos do que isso de você”. Eu já falava: “Tá bom pai, vou trazer isso para o senhor”. Desde o começo eu já queria, já era o meu objetivo, eu já entrei de cara falando “eu vou ser a 01”. Fazia tudo pensando nisso. Quando eu estava cansada, quando não queria estudar, ou quando queria dormir em vez de fazer outra coisa para me ajudar, eu pensava: “não, vai valer a pena, porque é o que quero e vou conseguir”. Isso vem muito de casa, sabe? Do meu pai, que já me deu o incentivo antes mesmo de eu entrar.
O que significa o fato de as mulheres ocuparem também o corpo de fuzileiros navais?
Abre muitas portas. É muito importante a Marinha abrir essa porta, porque servimos como inspiração para outras mulheres, para mostrar a elas que a gente consegue, sim, fazer o que os homens fazem. Não é só porque é um ambiente masculinizado que a gente não consegue ter nosso espaço também. O treinamento realmente não teve diferenciação. Fizemos as mesmas coisas que eles: colete, capacete, fuzil, mochila pesada, igual, não teve nada diferente para a gente.