Não houve novidades no anúncio dos cinco primeiros nomes do ministério de Luiz Inácio Lula da Silva, tanto que já era possível confirmar Fernando Haddad, Flávio Dino, Rui Costa, José Múcio Monteiro e Mauro Vieira antes mesmo de o presidente eleito chegar ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília.
Por isso, o mais importante são os sinais que Lula emite ao fazer o pronunciamento uma hora e quinze antes do início do jogo da Seleção Brasileira na Copa. E esses indicadores apontam para os dois mais sensíveis ministérios: Fazenda e Defesa.
Primeiro dos novos ministros a ser anunciado no palco, no final da manhã desta sexta-feira (9), Fernando Haddad liderará a Fazenda desmembrada do "superministério" de Paulo Guedes (com Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Planejamento, Orçamento e Gestão separados). Para um presidente cuja questão da confiança é valor fundamental, o ex-prefeito de São Paulo chega à Esplanada após testes que levaram semanas: COP-27, no Egito, passagem por Portugal, hard talk com a Febraban e pelos corredores de Brasília.
O anúncio dos primeiros nomes só seria feito, conforme o próprio Lula havia prometido, após a diplomação, na segunda-feira (12). Mas o presidente eleito quis reduzir especulações, diminuir ansiedades. Na saída do CCBB, quando já entrava no carro, Haddad respondeu duramente a uma pergunta sobre os humores do mercado.
- Olha o "investment grade" da prefeitura de São Paulo. Fui o primeiro prefeito a conseguir grau de investimento no país. Se você não olhar para trajetória da pessoa, vai ficar em fake news. - afirmou.
Sobre arcabouço fiscal prometeu:
- Vai sair no ano que vem. Temos prazo inclusive na Constituição. E reforma tributária pode ser junto.
A antecipação do titular de outro ministério sensível, a Defesa, também se explica pela necessidade de minimizar ansiedades. José Múcio Monteiro, um civil, é um político que tem bom trânsito entre militares. Sua confirmação foi feita depois do risco que começou a ficar mais latente de que os atuais comandantes das forças renunciassem antes de Lula assumir, em 1º de janeiro. O principal desafio de Múcio será desmilitarizar o governo - há 6 mil militares com cargos - e reconstruir pontes com os quartéis.
Em relação à Casa Civil, o anúncio de Rui Costa entra na cota do PT, que deseja ficar com os ministérios mais estratégicos. A presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, havia indicado de 10 a 12 pastas cobiçadas: além da Casa Civil e Fazenda, estão na mira Educação, Saúde, Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social e das Cidades.
Flávio Dino talvez seja o único que entrou na transição ministro e sairá dela como tal. Era dado como nome certo na pasta da Justiça e Segurança Pública. Por enquanto, o ministério não será dividido, mas Lula sinalizou que pode fazê-lo. O ex-governador do Maranhão e senador eleito terá como um dos desafios revogar os decretos que facilitaram a compra e porte de armas. Na saída do CCBB, confirmou ter indicado a Lula o nome do delegado gaúcho Andrei Rodrigues, chefe da segurança do presidente eleito, para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal (PF).
Nas Relações Exteriores, a confirmação de Mauro Vieira, que foi chanceler no governo Dilma Rousseff, demonstra uma reverência de Lula ao Itamaraty. Diplomata de carreira, não político, ele é atual embaixador na Croácia, já passou por Washington e pela missão permanente do Brasil nas Nações Unidas. Assim, o futuro presidente prestigia a Casa de Rio Branco no momento em que recuperar a imagem do Brasil no Exterior é fundamental para a atração de investimentos. Resta saber quem será - e se haverá - a figura do assessor de assuntos internacionais, posto que, durante as gestões do PT, ganhou relevância, com o falecido Marco Aurélio Garcia atuando nos bastidores.