Um dos pilotos que avistaram objetos luminosos não identificados no céu de Porto Alegre contou à coluna as circunstâncias do episódio. O comandante Daniel Medina Guimarães, 56 anos, havia decolado de Brasília na noite de sexta-feira (4) em avião da Gol. Ele e o colega na cabine do voo 1928 começaram a avistar as luzes no momento dos procedimentos para pouso no aeroporto Salgado Filho.
Com 34 anos como piloto, o comandante, natural da capital gaúcha, conta que o tema virou objeto de curiosidade entre os colegas da aviação. A seguir, veja os principais trechos da conversa
Em que circunstâncias o senhor avistou as luzes?
Nós estávamos chegando a Porto Alegre entre o voo da TAM, que informou ter visto (as luzes) e o da Azul, que veio posterior ao nosso. Só que não falamos nada. Em um primeiro momento, eu achei que fosse um satélite. É comum, nessa época do ano, avistarmos satélites. Conversei com o colega. Ele me chamou atenção: "Tem umas luzes fortes". Eu olhei e disse: "Deve ser satélite". Só que aquilo foi aparecendo constantemente. Toda hora, passava um minuto ou dois, e ia aparecendo. Uma luz muito forte, uma intensidade muito mais forte do que qualquer luz que a gente conheça. E com cores: em determinados momentos, um branco muito vívido, e em determinados momentos, umas luzes em uma cor misturada entre o vermelho e o verde. O que chamou atenção é que começaram a aparecer sempre no mesmo lugar e em movimento circular, o que não é comum para um avistamento de satélite, que percorre como se fosse uma calota polar, circular. Percebe-se que ele corre o céu de uma forma circular.
O senhor vinha de onde?
Eu vinha de Brasília. Pousei em Porto Alegre à 0h5min. Havia decolado de Brasília às 21h26min.
Em que momento vocês começaram o avistamento?
Nós começamos a avistar quando começamos a descer. Já estávamos em contato com Porto Alegre e começamos a descida, um pouco antes daquela região de Gramado, Canela, Caxias do Sul. Começamos a descida, e o colega me chamou atenção. Aí, nós fomos acompanhando. E aquilo foi aparecendo de forma constante. O que chamava atenção era esse movimento circular que faziam no mesmo lugar. Nós estávamos em altitude de cruzeiro, a 11 mil metros. E a impressão que dava era que eles estavam um pouco mais acima, a 13 mil, 14 mil metros. Mas depois a gente começou a descer, e eles ficaram bem para o sul, em direção à Argentina. Os passageiros não iam conseguir ver da cabine de passageiros. Nós só conseguimos ver da cabine de comando porque estava bem na nossa frente, como a gente diz na aviação, na nossa posição de 12 horas.
As luzes não estavam perto de Porto Alegre, então? Seria possível estimar a distância?
Estaria mais ao sul da Lagoa dos Patos. Ele estava bem em direção à Argentina, para a direita da Lagoa dos Patos. E os movimentos nos chamaram atenção: pareciam duas luzes, uma vinha, enquanto a outra ficava mais fraca. Em seguida, as duas ficavam fracas. Daqui a pouco, uma delas ficava mais forte. Você percebia direitinho que eram movimentos circulares de duas luzes, muito fortes.
O senhor já havia avistado algo assim?
Em minha vida de piloto, eu já tive alguns eventos que pude avistar algo próximo a isso. Mas não tão real, tão nitidamente. Nós dissemos: "Cara, o que pode ser isso?". Não era um movimento de satélite. Nem meteoros, que passam e desaparecem. Se fosse uma chuva de meteoros, não apareceria no mesmo lugar. Isso que soa estranho para nós.
Vocês comunicaram o controle aéreo?
Não, nós não falamos com o controle sobre isso porque não tínhamos certeza do que a gente estava vendo. O fato era que estávamos vendo luzes. Mas o tráfego da frente, que era o da TAM, ele vinha conversando com o controlador, dizendo que ele avistava as luzes, e o controlador perguntava. Eu disse ao copiloto que não iríamos falar porque é chover no molhado, já falaram, não vamos congestionar a frequência. E, de fato, isso só aconteceu depois que pousamos, quando a torre de Porto Alegre nos perguntou se a gente avistara os óvnis. E nós dissemos: "Afirmativo, nós avistamos. Nós vimos o tempo inteiro". Enquanto o tráfego da frente, o da TAM, falava, nós estávamos vendo exatamente a descrição que ele fazia. A frequência de chegada e de saída é a mesma em Porto Alegre para todas as aeronaves.
Houve um relato de que já desde Confins se avistava.
A noite estava muito propícia. Nós até avistamos um satélite, é normal isso, bem comum. Ele difere da estrela cadente porque ela tem movimento de queda. O satélite passa de maneira diferente na órbita terrestre. Quando a gente vê, é uma iluminação momentânea, dá aquele brilho. Vimos um satélite. E, depois, começamos a descida, começou a luz. Era muito forte para ser um satélite. Era uma noite muito calma, muito boa para voar.
O tema virou assunto entre colegas?
Virou. Nós falamos bastante. Hoje, fiz um curso, e os colegas perguntaram bastante sobre isso. São vários os avistamentos por parte dos pilotos, em condições diferentes. Mas essa foi vista por mais de uma pessoa, por mais de um avião. Nós nos falamos muito, estamos sempre trocando ideia sobre isso. O pessoal pergunta o que pode ser. É o que a gente sempre diz: por que seríamos apenas nós os privilegiados em viver nessas galáxias?
Uma curiosidade: o senhor acredita em vida fora da Terra?
Eu acredito que sim, porque nós conhecemos um Universo relativamente pequeno do que existe ao nosso redor diante do que existe em uma galáxia. A chuva de meteoros que foi vista no céu do Nordeste ocorreu há 20 mil anos. É algo muito louco quando se fala de espaço. Você imagina o que não tem além disso. É muito difícil de determinar. Mas eu acredito que tenha.
O senhor já voltou a pousar em Porto Alegre depois dessa experiência?
Não, aquele foi meu último voo para Porto Alegre. Hoje, estou em São Paulo, amanhã (terça-feira, dia 8) vou para Salvador e volto para Porto Alegre durante o dia. No dia é mais difícil de ver por causa da claridade. Naquela noite (de sexta), não tinha nuvem no céu. A visibilidade era de 100%, nós estávamos avistando o clarão de Porto Alegre lá em Florianópolis.