Em sete dias no cargo de presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden se dedicou a reverter parte do legado do antecessor, Donald Trump, em frentes como a questão migratória e no retorno do país a tratados e organizações internacionais. Também mudou práticas internas do governo com relação à prevenção contra a covid-19 e acelerou a compra de vacinas. Veja sete decisões em uma semana no Salão Oval.
1 - Combate ao coronavírus
Logo no primeiro dia, o democrata passou a exigir o uso de máscaras de proteção em prédios federais, meios de transporte e aeroportos. Na terça-feira (26), anunciou que seu governo está comprando mais 200 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 (100 milhões da Pfizer/BioNTech e 100 milhões da Moderna) . A meta é imunizar até 300 milhões de americanos (quase a população total) até o final de agosto.
2 - Retorno ao cenário internacional
Também no primeiro dia, assinou o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris sobre mudanças climáticas e reverteu o processo de saída da Organização Mundial da Saúde (OMS), iniciado por Trump. Uma amostra do peso que dá ao tema ambiente, destacou para participar do Fórum Econômico Mundial (o encontro de Davos, que neste ano é virtual) John Kerry, ex-secretário de Estado de Barack Obama e enviado da presidência para o Clima, cargo criado pela administração Biden.
3 - Migração
Foi provavelmente o campo onde houve mais ações. Biden paralisou a construção do muro na fronteira com o México. Ele também suspendeu as deportações por cem dias e acabou com restrições a transferências de recursos do governo federal às chamadas "cidades santuários" (municípios que tentam evitar o cumprimento das leis de imigração, normalmente dando algum nível de proteção a migrantes ilegais, que haviam sido punidos por Trump). Colocou fim às diretrizes de atuação das autoridades de fronteira, que levou à separação de famílias ao entrarem sem documentos nos EUA. Biden também permitiu que os "dreamers", jovens que chegaram aos EUA quando crianças e ainda não têm documentos, tenham acesso a financiamento imobiliário. Ele revogou a determinação do governo anterior de excluir imigrante sem papéis do Censo. Sobre viagens, suspendeu decretos executivos que proibiam a entrada no país de pessoas oriundas de algumas nações de maioria muçulmana. E ainda reativou a versão em espanhol do site da Casa Branca.
4 - Brasil
O presidente reverteu a liberação de Trump sobre viajantes brasileiros e voltou a impor restrições de viagens do Brasil. O argumento é a variante do coronavírus identificada no país e que, segundo a ordem executiva, pode "impactar o potencial de reinfecção". Além de Brasil, a mesma regra vale para África do Sul, Reino Unido, Irlanda e nos 26 países europeus da zona Schengen (de livre-circulação). Trump havia feito o mesmo relação ao Brasil em maio do ano passado.
5 - Questões raciais e sistema penitenciário
Na terça-feira (26), Biden assinou ordens executivas que não renovam contratos com prisões de administração privada, e implementou medidas que buscam reduzir a discriminação no mercado imobiliário, enfatizam o compromisso com a soberania tribal dos indígenas e condenam preconceito contra asiáticos e americanos descendentes de povos das ilhas do Pacífico. Essas medidas não atendem às reivindicações de ativistas contra o racismo estrutural nos EUA nem reduzem a violência policial contra negros. Grupos exigem reformas da polícia e da Justiça criminal, como o banimento da pena de morte e a redução da transferência de equipamentos militares para agentes de segurança locais.
6 - Economia
O "Plano de Resgate Americano", como é chamado o pacote de estímulos no combate à pandemia prevê US$ 1,9 trilhão, tem o objetivo de ajudar famílias e empresas durante a crise. Um dos principais pontos sugere o pagamento de US$ 1,4 mil adicionais para cada americano, que, somados aos US$ 600 estipulados pelo governo Trump, elevam a ajuda para a US$ 2 mil. Também fala em aumentar o benefício do seguro-desemprego para US$ 400 e estendê-lo até setembro, além de elevar o salário mínimo para US$ 15 a hora. O plano também projeta a prorrogação até setembro das moratórias de despejo e execução hipotecária para quem não está conseguindo pagar.
7 - China
O principal desafio imediato em termos de política externa está posto. Na segunda semana de governo, Estados Unidos e China medem forças em uma das regiões mais estratégicas do planeta: o Mar do Sul da China, área na qual o regime comunista tem ampliado presença militar. A marinha chinesa anunciou um exercício na região até domingo, em uma clara ação de dissuasão em relação aos EUA, que deslocou para a área dois porta-aviões. A China também moveu aviões para perto de Taiwan, ilha que o governo chinês considera parte de seu território. Na primeira declaração do tipo, o governo Biden pediu a Pequim que parasse de tentar intimidar Taiwan e prometeu apoio ao governo local. Na conferência de Davos, na segunda-feira (25), o presidente chinês Ji Jinping falou em "nova Guerra Fria".