Em entrevista na manhã desta sexta-feira (21), durante a 15ª Conferência do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, respondeu às declarações do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que provocaram polêmica ao sugerir que as Forças Armadas poderiam não reconhecer o resultado das eleições.
— A Bíblia das Forças Armadas é a Constituição Federal. Fora desse caminho não há trilha, caminhada. Jamais. Não há risco nenhum de as Forças Armadas aceitar ou querer deixar de aceitar aquilo que é legal e institucional. (Elas) têm mais é que garantir as instituições funcionando normalmente e, quando solicitadas, garantir a lei e a ordem — disse o ministro.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Villas Bôas afirmou que o atentado sofrido pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL) mostraria que “estamos agora construindo dificuldade para que o novo governo tenha uma estabilidade, para a sua governabilidade e podendo até mesmo ter sua legitimidade questionada”. Na opinião do ministro, a manifestação do comandante do Exército foi “conciliatória”, com intenção de evitar uma crise ou “instabilidade no processo eleitoral”.
Realizada pela Fundação Konrad Adenauer e pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) no Hotel Sheraton Grand Rio, a Conferência do Forte de Copacabana é o principal encontro sobre segurança no continente latino-americano. O foco do evento deste ano é a crise migratória venezuelana e as mudanças climáticas.
Durante 40 minutos, o ministro Silva e Lula explicou à plateia, formada por diplomatas, políticos e palestrantes de 10 países, medidas adotadas pelo governo brasileiro diante da crise de migrantes da Venezuela. Conforme o ministro, até agora, 1.947 venezuelanos foram interiorizados para outros Estados.
Com fotos e vídeos, ele mostrou o trabalho das Forças Armadas na fronteira, em Roraima, para receber os migrantes, a distribuição de alimentos – cerca de 12 mil alimentações diárias são distribuídas, conforme ele – e a organização para o deslocamento voluntário para outros Estados, feitos em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Conforme o governo, chegam 480 venezuelanos à Roraima a cada dia, em média.
Silva e Luna contou que esteve com ministro venezuelano da Defesa, Vladimir Padrino López, na semana passada, para discutir a crise com o país vizinho. O encontro, surpreendente após dois anos de críticas de Nicolás Maduro ao presidente Michel Temer, foi em Puerto Ordaz.
Além de episódios de violência em Pacaraima entre brasileiros e venezuelanos, foi debatido entre os ministros o abastecimento elétrico de Roraima. O Estado recebe energia de uma hidrelétrica na Venezuela. Conforme Silva e Luna, o governo venezuelano teria dado garantias de que não há risco de apagão.
* O colunista viajou ao Rio a convite da Fundação Konrad Adenauer.