Os ataques deste sábado em Londres têm impacto direto na eleição de quinta-feira, 8 de junho, no Reino Unido, em que a primeira-ministra Theresa May buscava maior força política para conduzir o Brexit. Digo buscava porque, diante da ofensiva do terror em 2017, após vários anos de paz na ilha de Sua Majestade, a segurança interna passou a ser prioridade.
Nunca, nem em tempos de IRA (Exército Republicano Irlandês), o Reino Unido esteve tão vulnerável. O terceiro ataque do terror este ano, depois da ponte de Westminster, de Manchester e deste fim de semana, joga a eleição em um cenário imprevisível. Aliás, imprevisibilidade é algo que os britânicos passaram a ver como normal desde a votação pela saída da União Europeia.
Já não há garantias de que May irá vencer. Nas últimas semanas, seu Partido Conservador, que chegou a ter 15 pontos percentuais de vantagem sobre os trabalhistas, despencou. Está agora apenas cinco pontos na frente dos rivais. Segundo levantamento do Instituto Ipsos Mori, os conservadores têm 45% dos votos contra 40% dos trabalhistas. O medo do terror, que nos EUA normalmente favorece partidos de direita, pode desequilibrar a balança a favor dos trabalhistas.
Nos últimos meses, Jeremy Corbyn, um socialista e pacifista, vem atraindo grandes multidões. Ele tem jogado a culpa pelos atentados recentes na política externa dos últimos governos – leia-se conservadores, com May e David Cameron. No front de discussões internas, o cenário também não é favorável a May. Pouco antes do atentado de Manchester, sua proposta de pedir a mais pensionistas que arquem com os custos da assistência social e de saúde que recebem em domicílio revoltou parte da população. Ela teve de recuar e explicar melhor a proposta.
Seja ação de lobos solitários ou episódios orquestrados por grupos extremistas, o ataque coordenado deste fim de semana entra na pauta da eleição. A barreira geográfica do Canal da Mancha não é mais suficiente para tornar o país blindado do horror que vimos em Nice, Berlim, Paris e Bruxelas. Se o Brexit colocou o Reino Unido à beira do abismo, o terror tem potencial para jogá-lo no caos e contaminar muito mais outros setores além da política e da economia.