Projeto, planejamento, método, organização, tudo isso não apenas é fundamental como é uma carência histórica na administração pública de Porto Alegre – as obras da Copa, por exemplo, atrasaram porque foram mal pensadas. Mas, quando o problema é inadiável, dramático, extremo, insuportável, a prefeitura precisa ser urgente: não há tempo para maiores elaborações, não há tempo para mais nada além de uma solução imediata.
Ao longo das últimas semanas, cobrado pela imprensa, o Dmae repetiu algumas vezes que estava "trabalhando para resolver" a desesperadora falta de água no Morro da Cruz. Em entrevista à repórter Nathalia King, no Jornal do Almoço, uma jovem mãe chorava, com duas meninas no colo, porque nunca tinha visto rato na própria casa: agora, sem poder nem lavar a louça, o convívio com roedores virara rotina.
Outra senhora também chorou ao contar que a netinha, depois de passar mal em uma tarde de 40ºC, pedia água sem poder tomar. Faxineiras e pedreiros admitiram com vergonha que, após um dia duro de trabalho, não conseguiam tomar banho. Pode haver situação mais indigna e degradante do que essa? Não, não pode: porque sem água, como sabemos desde a 1ª série, não há vida. Era inadmissível que o Dmae estivesse "trabalhando para resolver"; ele tinha que resolver e acabou.
O prefeito Sebastião Melo felizmente entendeu isso e, nesta semana, decretou situação de emergência na zona leste da Capital. Ou seja: a prefeitura agora pode fazer compras e contratações sem precisar de licitação, o que agiliza qualquer providência. Na sexta-feira (11) pela manhã, o Executivo já havia adquirido 400 caixas d'água. A meta é instalar nos próximos dias pelo menos mil reservatórios – de 500 litros cada – no teto ou no pátio das residências.
Claro que essa é uma solução paliativa: quando houver interrupções no abastecimento, as caixas d'água devem garantir uma boa reserva aos moradores do Morro da Cruz, amenizando bastante o problema. Já a solução definitiva, como sempre, passa por projeto, planejamento e organização: o Dmae promete ampliar toda a rede que abastece aquela área – só assim será possível atender ao imenso número de ocupações irregulares que chegaram à região nos últimos anos.
Em resumo, existem medidas de longo prazo e de curto prazo. Mas, quando o drama da população é improrrogável, esse prazo é sempre minúsculo: a água precisa voltar imediatamente, e a prefeitura parece ter se dado conta disso. É bom ela correr, porque está atrasada.