Líder do coletivo Cozinheiros do Bem, que já distribuiu durante a pandemia 30 mil refeições a moradores de rua, o chef Julio Ritta encerrou ontem seus 14 dias de isolamento. Curado da covid-19, ele retorna às ruas já no próximo sábado, para entregar refeições na Vila Pinto, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre.
Julio, nesta entrevista, detalha os sintomas da doença e diz que, nos momentos mais difíceis, sentiu algo semelhante a uma formiga caminhando por dentro de seu corpo. Leia a seguir:
Por liderar tantas ações na rua, esperava que pudesse se contaminar?
Achava que era possível, sim. Fazia o teste a cada 15 dias, até para preservar quem convive comigo. Quando deu positivo, parecia uma sentença de morte. Sou do grupo de risco, né? Tenho diabetes, e a covid-19 mata gente no mundo todo. Pensei: vou morrer.
E os sintomas reforçaram essa impressão?
Totalmente. Sem mentira nenhuma, eu sentia o vírus andando dentro de mim. Parecia uma formiga circulando pela garganta, pelo pulmão. Nunca vi nada igual. Os três primeiros dias foram horríveis, eu mal levantava. Um calorão, febre, dor nas juntas, perda de olfato e paladar, calafrios na cabeça... Esses calafrios eram uma coisa bizarra. Mas o pior era a sensação de algo caminhando no organismo.
Como foi a recuperação?
Minha namorada e meu sobrinho também se contaminaram, então ficamos juntos na casa dela, isolados. Parecia The Walking Dead, todo mundo se arrastando. Minha cunhada deixava as compras do mercado e da farmácia no portão. Os médicos receitaram um coquetel de remédios: ivermectina, azitromicina, prednisona, AAS e vitamina D. Mesmo assim, os Cozinheiros do Bem seguiram na ativa, repassando doações para outras instituições.
Tem ideia de como se contaminou?
Não. A gente mantinha o distanciamento nas ações, usava máscara, escudo de proteção, álcool gel. Deve ter sido algum descuido. E esse é o recado que deixo para as pessoas: não tem como se policiar o tempo todo. É difícil nunca coçar o olho, manter sempre a distância, não mexer na máscara. Então, o ideal é se expor o mínimo possível.