Sobre esse projeto da prefeitura que reduz o número de cobradores em Porto Alegre: você pode ser a favor ou contra, e tudo bem, isso é liberdade de opinião, cada um tem a sua.
Mas uma opinião só pode ser construtiva, só pode ser útil e produtiva para o debate, se ela partir da verdade. Usar informações falsas para disseminar uma opinião é desonestidade intelectual. É o que vem ocorrendo desde segunda-feira (9), quando rodoviários protestaram pela manhã bloqueando o trânsito na Capital.
Não é verdade que 3,6 mil cobradores serão demitidos se a Câmara de Vereadores aprovar o projeto. Basta ler o texto da proposta. O que a prefeitura sugere – e, repito, você pode ser a favor ou contra – é que, se um cobrador pedir demissão, ou se ele se aposentar, ou se ele for demitido por justa causa, essa vaga não precisa ser preenchida de novo.
A tendência, claro, é de que o número de cobradores vá diminuindo: não porque serão despedidos, mas porque o índice de rotatividade desses profissionais, segundo a EPTC, já passa de 10% ao ano. Ou seja, eles vão sair quando quiserem sair. E tomara que muitos queiram, porque inevitavelmente a profissão de cobrador vai acabar – algo que já ocorreu em praticamente toda cidade onde o transporte coletivo funciona.
Em Porto Alegre, apenas 20% dos passageiros ainda pagam em dinheiro. Faz 12 anos que a bilhetagem eletrônica é uma realidade. Alguns dizem que os cobradores ajudam na segurança e que, para o motorista, servem como auxiliares – ok, são opiniões razoáveis que merecem ser discutidas. Mas, para mim, o que espanta assaltos é o bandido saber que há menos dinheiro nos ônibus.
Ninguém discorda que o fim de uma atividade profissional é traumática. Só que neste caso a prefeitura parece ter encontrado uma forma de evitar o pior – um batalhão de desempregados – sem deixar de enfrentar uma questão inevitável. Você pode ter outra opinião, claro, e é saudável debatê-la. Desde que ela parta da verdade.