"Para subir al cielo
Para subir al cielo se necesita
Una escalera grande
Una escalera grande y otra chiquita"
Para subir ao céu é preciso subir o muro. Para subir o muro necessita-se de uma escada grande. Uma escada grande e outra pequenina. Afinal, o muro, a tática de intimidação de Donald Trump, as ameaças ao México, machucam o México, que precisa de escada grande para escalar o muro. Mas também machucam os EUA. Os mexicanos contam com escada nem tão pequenina, a retaliação.
Durante sua semana inaugural como presidente dos EUA, Donald Trump ofendeu os mexicanos ao convidá-los para vir a Washington, enquanto, no mesmo dia, assinava o decreto para a construção do muro. Estavam aqui em Washington os ministros da Economia e das Relações Exteriores. No dia seguinte, tuitou que talvez a reunião com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, devesse ser cancelada já que os mexicanos estavam se recusando a pagar os custos do muro. Peña Nieto dissera na véspera que seu país não o faria. O resultado foi o pior embate diplomático entre os vizinhos de que se tem notícia em tempos recentes. Como seria de se esperar, Peña Nieto cancelou a vinda a Washington, o que deixou Trump enfurecido. Horas depois, disse o presidente norte-americano que imporia tarifa de 20% sobre todos os produtos mexicanos, para a consternação de mexicanos, não-mexicanos, e das empresas americanas. Tudo isso enquanto declarava, quase ao mesmo tempo, que pretendia reabrir negociações sobre o Nafta, o tratado multilateral de comércio entre EUA, Canadá e México negociado em 1994 pelo então presidente Bill Clinton.
E agora? Essa é a pergunta que paira sobre Washington e sobre a Cidade do México. O que aconteceria se os EUA impusessem tal tarifa de importação sobre o México? Primeiramente, esse tipo de discriminação unilateral certamente levariam à abertura de um processo na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em segundo lugar, sofreriam as empresas americanas que hoje dependem de produtos produzidos no México para vender tanto nos EUA quanto para outros países. Finalmente, quem acabaria arcando com o custo da tarifa – que Trump tentou vender como "os mexicanos pagando pelo muro" – seria o consumidor americano, que enfrentaria preços mais elevados para comprar de automóveis a abacates. Há, também, outro efeito nefasto: tarifas sobre importações, sobretudo tarifa dessa magnitude, levaria a uma apreciação do dólar, reduzindo a competitividade dos produtos americanos. De todos os produtos americanos, não apenas daqueles diretamente afetados pela tarifa. E o que dizer das cidades na fronteira, que tanto dependem, de um lado e do outro, do comércio entre os dois países? Será que os homens e mulheres trabalhadores norte-americanos que precisam do dinamismo comercial para sobreviver serão esquecidos?
Ao que parece, a tentativa de Donald Trump de tratar a diplomacia internacional como se fosse uma negociação qualquer está saindo pela culatra e revelando aquilo que muitos já sabiam: ser homem de negócios "bem- sucedido" não é, necessariamente, a receita para ser um grande estadista. A relação bilateral com o México é de extrema importância para a indústria automobilística americana – onde está a boa parte dos empregos da indústria tradicional que Trump prometeu recuperar – além de ser também muito importante para a produção de equipamentos eletrônicos, de máquinas e motores, de equipamentos médicos, de móveis, de plásticos, e por aí vai. Desmantelar as cadeias que interligam as duas economias seria desastroso para todos, sobretudo para o consumidor americano, que sentiria de imediato os efeitos dos preços mais elevados. Sua tequila, seu guacamole.
Estamos apenas no início do que promete ser um embate bastante turbulento. Enquanto isso, não custa lembrar que quem está na corda bamba não é apenas o México. Os mexicanos têm todo direito de proclamar em alto e bom som: "yo no soy marinero, soy capitán, soy capitán, soy capitán". Bamba la bamba.
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