No ano em que o país enfrentou uma das piores recessões econômicas da história, o Natal mais magro não será uma regra para todos os brasileiros. Produtores rurais e indústrias que ousaram, inovaram e apostaram na produção agropecuária chegam ao fim de 2016 com motivos para comemorar. Mesmo impactado pela retração do mercado interno, o agronegócio resistiu a onda de pessimismo e incertezas graças ao ímpeto empreendedor da produção primária. Às vésperas do Natal, a coluna conta histórias de agricultores e de cooperativas gaúchas que lembrarão de 2016 com saudosismo pelos bons resultados colhidos.
Soja e, agora, morangos na produção em Soledade
Na casa da família Hoffman, em Soledade, 2016 foi um ano para empreender. Os pequenos produtores, donos de uma propriedade de 30 hectares no interior do município, decidiram diversificar a produção e investir também no cultivo de morangos. A atenção, até então, era toda dedicada à soja. Agora, são 1,2 mil pés da fruta cultivados em estufa.
Os cuidados ficam sob responsabilidade de Ritiele e da mãe, Vanderli, enquanto o pai, Romildo, e o marido, Gilmar, tomam conta do plantio dos grãos. A aposta deu certo e o aumento da renda familiar permitiu que a jovem,de 26 anos, permanecesse perto dos pais e não migrasse para cidade em busca de emprego.
– Fomos aprendendo na prática. Pesquisamos para conhecer mais sobre o cultivo. Deu certo e conseguimos aumentar a nossa renda – conta Ritiele Rodrigues Hoffmann, produtora rural de Soledade.
Aposta em aumento de área irrigada
Mauro Stert, da Sementes Santa Rita, decidiu não dar ouvidos a onda de incertezas que marcou 2016 e apostou no aumento da produção de grãos para espantar a crise. A área plantada pelo produtor saltou de 2,8 mil para 3,6 mil hectares – por meio de arrendamento de 800 hectares irrigados e de parcerias com produtores.
Se confirmada a safra recorde prevista pelo IBGE no próximo ano, Stert adianta que o plano é aumentar ainda mais a produção nas propriedades em Salto do Jacuí, Pejuçara, Fortalezados Valos e Boa Vista do Incra.
– Em um ambiente onde a competitividade é cada vez maior e a margem de lucro cada vez menor, optamos por aumentar o volume da produção – diz Mauro Stert, um dos proprietários da Sementes Santa Rita.
Ousadia para fazer cooperativa crescer
Os maiores investimentos da história da Cotrijal foram concretizados, curiosamente, em 2016. No início do ano, a cooperativa inaugurou uma unidade de beneficiamento de sementes, em Não-Me-Toque. Com capacidade para armazenar mais de 600 mil sacas de grãos, a estrutura recebeu investimento de R$ 48 milhões e gerou 180 novas vagas de emprego.
Em junho, a cooperativa avançou mais: comprou as 14 unidades de recebimento de grãos da BSBios – uma das maiores produtoras de biodiesel do país. No ano marcado por investimentos, a Cotrijal pretende fechar com R$ 1,5 bilhão de faturamento, 11% acima do resultado registrado em 2015.
– Fizemos um planejamento bastante arrojado, guiado por uma gestão muito profissionalizada. As oportunidades apareceram e aproveitamos – conta Nei César Mânica, presidente da Cotrijal.
Condomínios leiteiros inspirados em modelo europeu
Inspirada em modelo adotado na Galícia, na Espanha, a Cooperativa dos Suinocultores de Encantado (Cosuel) inaugurou neste ano condomínios leiteiros. Pioneiro no Brasil, o programa da Dália Alimentos reúne pequenos produtores em associações. A produção é concentrada em estruturas com ordenhas robotizadas, reduzindo a mão de obra e aumentando a produtividade.
Os primeiros condomínios foram instalados em Nova Bréscia, Arroio do Meio e Roca Sales.Ainda neste ano, a cooperativa começou a implantar um mega complexo avícola.O investimento de R$ 95 milhões engloba fábrica de ração e de farinhas e frigorífico de aves, que começou a ser construído.
– Esse equilíbrio só foi possível pela gestão interna, enxuta e eficiente, associada à busca de inovação constante, fundamental diante da atual conjuntura – afirma Gilberto Piccinini, presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos.
Ampliação de fábrica para dobrar produção de leite
Ao ampliar a fábrica de leite em pó em Cruz Alta,com investimento de R$ 120 milhões,a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL) pretende dobrar a capacidade de processamento em três anos – de 1 milhão de litros diários para 2,2 milhões de litros. Desde junho, quando inaugurou a nova estrutura, a cooperativa aumentou em 23%a captação de leite – por meio de novos produtores e também pelo incremento da produtividade nas fazendas.
Em seis meses, foram criadas 150 novas vagas de trabalho. O incremento de produção resultou em 20% de aumento no faturamento de 2016,na comparação com o ano passado.
– O projeto de ampliação não nasceu de uma ideia individual, mas de um propósito coletivo dos produtores de terem uma indústria de leite moderna e competitiva – destaca Caio Vianna, presidente da CCGL.