Pelo jeito, vai se multiplicar o número de presos políticos na Venezuela, que atualmente é de cem. Veja bem: após o terceiro dia de protestos e saques resultantes da ação do governo venezuelano de ter anunciado a retirada de circulação da nota de 100 bolívares (a de maior valor no país), o presidente Nicolás Maduro disse que mais de 300 pessoas foram presas.
Maduro vai ao seu programa de TV e, sem quaisquer provas que sejam, acusam os de sempre: a "oligarquia", "os Estados Unidos", que são o "império" etc.
Diz ele:
- Há militantes dos partidos terroristas Vontade Popular e Primeiro Justiça. Aparecem envolvidos esses membros respondendo ao governo dos EUA.
Mesmo não havendo qualquer possibilidade de dúvida de que a Venezuela tem presos políticos e que isso tenha ficado ainda mais escancarado na semana passada em razão de um grande paradoxo, Maduro mantém o discurso:
- Não me venham dizer que são presos políticos. Eles são os dois partidos dos "gringos" na Venezuela - disse, dizendo que o presidente americano, Barack Obama, tenta orquestrar um golpe contra o que ele define como "socialismo" na Venezuela antes do fim de seu mandato, em janeiro.
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Curiosidade: é o mesmo presidente americano, democrata e pioneiro como mandatário negro, que promove o reatamento de relações com Cuba.
São tantas contradições...
Um total de 350 estabelecimentos teriam sido saqueados em Ciudad Bolívar, no leste do país, desde sexta-feira, incluindo 90% dos supermercados, além de mercadinhos de bairro, farmácias e concessionárias de veículos. O Estado de Bolívar, que registrou os protestos mais violentos do fim de semana, vive desde sábado sob toque de recolher. Um garoto de 14 anos foi morto durante os saques em El Callao, também em Bolívar. Autoridades municipais de El Callao confirmavam três mortos, entre eles um lojista asiático. Em Santa Helena de Uairén, perto da fronteira com o Brasil, comerciantes e moradores formaram grupos de vigilantes para se juntar à polícia e aos soldados depois que seis lojas foram saqueadas no sábado. Enfim, é uma sucessão de saques e atos violentos. Alguns comerciantes chegaram a baixar os preços para evitar os ataques.