Adolescentes não costumam ler manuais para compreender seus pais, como fazem os adultos a respeito deles. Para respirar fundo, acalmar-se e explicar as coisas, talvez seus pais tenham recorrido a livros, fórmulas, conselhos de gente influente ou especialistas. Talvez você pudesse fazer o mesmo.
Eu sei que seus pais parecem insuportáveis às vezes, mas ajuda buscar uma explicação para o que se passa com eles. As chatices e o nervosismo podem ter a ver com assuntos nada a ver com você, coisas de amor, dinheiro, trabalho, problemas de família. Quando dizem que o mal estar ou a tristeza deles são culpa sua, algumas vezes você realmente aprontou, outras apenas estão descarregando naquele que está por perto, e ficar em casa é correr esse risco. Mesmo quando é por sua causa, nem sempre tem a ver com algo que você fez de errado.
Você precisa entender a insegurança deles. Pais vivem se culpando e querem ter uma família diferente daquela em que cresceram. Quando crianças, juraram para si mesmos que, quando tivessem filhos, seriam pessoas melhores do que os pais que tiveram. Então, quando se descobrem fazendo igualzinho àquilo que condenavam, ficam deprimidos. É bem melhor se eles se derem conta de que estão envergonhados, desiludidos com eles mesmos. Se não forem capazes de perceber isso, provavelmente vão dar um jeito de ficar pensando que a culpa é sua, que é desregrado, egoísta. Podem ficar achando que deveriam ter feito como os pais deles, afinal, você é um plasta, deu errado, e ficam culpados por ter sido tão ingratos com a educação que receberam.
Quando você era criança, seus pais tinham pressa para fazer tudo o que precisava para lhe tornar uma pessoa ideal. Sabiam que o tempo era curto e o desafio, imenso. Mesmo depois de tanto esforço, acreditam que foi pouco, ou o contrário, que exageraram. Agora estão buscando em você os erros e as falhas que acham que cometeram.
Essa crise – a deles – começou depois da sua última fase. Você provavelmente passou por um longo período de puberdade, no qual, reconheça, estava insuportável, sempre de mau humor, péssima vontade, sentindo-se feio e incapaz. Você ainda se lembra: dava vontade de ficar em casa quietinho, mas a voz dos pais dava raiva, queria que seus irmãos sumissem e os programas familiares eram uma tortura.
Os adultos enchiam vocês de perguntas tentando ser simpáticos, ou mesmo ajudar, você respondia com monossílabos, tentava não ser desagradável, mas acabava se irritando. Eles só queriam saber onde foi parar aquela criança bacana que eles tinham. Não conseguiam te classificar, achavam que esse silêncio todo só podia significar coisas ruins. Foi ali que começaram a ficar com medo de drogas, sexo, internet, quando você só suspirava pela pele horrível e pelo desânimo.
Agora que finalmente passou a fase de andar emburrado, é você que sente o tempo curto para tudo o que tem vontade de fazer. E nenhuma dessas coisas costuma ser junto com seus pais. Eles também estão aliviados: você está mais bonito, tem vontade de se arrumar, de sair de casa. Mas ficam observando, querendo respostas. Parece que já vão aparecer os resultados do que investiram: você vai ser heterossexual? Vai ser desejado? Vai ser capaz de se virar sozinho? Vai ser popular, brilhante? E se der tudo errado, se você for drogado, fracassado, dependente, discriminado? São dúvidas bem conhecidas, também são suas. Aliás, adoraria ter essas respostas, mas o jogo está recém começando. Apesar disso, eles têm essa sensação de game over.
Fale um pouco com eles, tranquilize-os, lembre-os de que ainda é cedo para tantas perguntas. Você e eles terão tempo de ir se achando. Tudo o que a gente imagina é maior do que quando realmente acontece, isso vale para as coisas boas e ruins, para você e para eles. Pais de adolescentes estão com medo da velhice, de ter escolhido caminhos errados. Ver você tão crescido lembra as promessas que se fizeram (e não cumpriram) quando tinham sua idade. Tente ter paciência, agora são eles que estão se achando feios e sem jeito para coisa nenhuma, lembra?