A eleição para prefeito de Londres do trabalhista Sadiq Khan – 45 anos, filho de um motorista de ônibus paquistanês – chamou a atenção do mundo. Khan é o primeiro muçulmano a comandar uma capital ocidental. Professora titular de Psicologia Social da London School of Economics, a gaúcha Sandra Jovchelovitch contextualiza a relevância do feito do advogado de Direitos Humanos educado em escola pública e criado num prédio subsidiado pelo governo.
Londres é uma cidade única que reúne lado a lado moradores ultraconservadores religiosos e ultraliberais. O que representa a eleição de um muçulmano em um local assim?
Representa uma tendência clara que se vê nos grandes centros urbanos europeus, mas principalmente em Londres, que é a de abraçar a sua diversidade cultural e eleger um representante de uma comunidade étnica específica e que, ao mesmo tempo, representa a essência do que é ser londrino. Mesmo os setores mais conservadores da cidade, em minoria, têm uma sensibilidade para essa herança multicultural de Londres. É o caso também do prefeito que sai, Boris Johnson (conservador), que sempre foi aberto a isso.
Foi uma campanha complicada para os parâmetros britânicos. No início, Sadiq Khan foi muito criticado por enfatizar sua origem humilde. Houve um exagero?
O fato de ele ter batido muito na sua origem social se enquadra muito numa nova orientação da psicologia das novas esferas públicas dos países desenvolvidos, que está muito expressa também na própria campanha de Obama e na postura de Michelle. Eles passam a mensagem de que não interessa a cor da sua pele, sua origem social, de onde você veio: você pode, yes we can. Você pode sonhar e ascender socialmente. Políticos como Khan e Obama representaram muito isso.
Críticos de Khan temem que, por ele ser muçulmano, seria menos rigoroso contra radicais e que a cidade estaria menos segura?
Acho que não. Um dos grandes problemas que a segurança europeia terá de enfrentar é como as sociedades europeias se comunicam com seus outros internos. A maioria das ciências sociais aponta para o fato de que o que constrói esse comportamento radical é um sentimento de alienação, de exclusão de boa parte dessas comunidades em relação ao resto da sociedade. Uma pessoa como Khan, na opinião de muitos especialistas em segurança, fará o contrário de liberalizar. Vai construir uma ponte, com uma capacidade de diálogo para facilitar a comunicação.
GALA BRASILEIRA EM LONDRES
O empresário gaúcho Alexandre Grendene, fundador e presidente do conselho da Grendene, e John Fallon, CEO do Grupo Pearson, receberam, na terça-feira, em Londres, o prêmio Personalidade 2016. A noite black-tie, promovida pela Câmara de Comércio Brasileira na Grã-Bretanha, com o apoio da Embaixada do Brasil, foi realizada no Hotel Hilton, em frente ao Hyde Park.
Um empresário brasileiro com investimentos na ilha, Grendene, e uma empresa inglesa que investe no Brasil, a Pearson, marcaram a integração comercial entre os dois países na premiação, que vem sendo realizada há 17 anos. A Grendene está em Londres desde os anos 1980 e, em 2014, abriu uma loja conceito em Covent Garden. Cerca de 80% dos sapatos brasileiros vendidos na Inglaterra são produzidos pela empresa.
Já o grupo Pearson, que recentemente se desfez do jornal Financial Times, é tradicional na edição de livros. Seu pilar mais forte de negócios é em educação, com marcas como Wizard e Yázigi.
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Às vésperas da votação do impeachment no Senado, o embaixador Eduardo dos Santos não fugiu do assunto. Em seu discurso, apontou o caminho a ser seguido para a retomada do crescimento nacional:
– Precisamos realizar nosso contrato social baseados em três pilares: democracia, crescimento econômico com estabilidade e inclusão social.
Na sequência, mudou o foco e garantiu que o Rio está pronto para a Olimpíada. A crise brasileira também teve repercussão no salão entre os convidados, mas ao estilo inglês: contida. Tradicionalmente, em solenidades com esse grau de formalidade, a autoridade estrangeira propõe um brinde ao chefe de Estado local. Assim foi feito, e todos brindaram à rainha.
Depois, foi a vez do brinde proposto à presidente do Brasil. O brinde foi feito, mas acompanhado de um forte burburinho entre os convidados.
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Alexandre, depois de 10 anos sem vir a Londres, desembarcou na cidade na companhia da mulher, Nora Teixeira, e de um grupo de amigos, que incluía o irmão Pedro Grendene e sua mulher, Tania Bulhões; o ex-ministro da Educação Cid Gomes e sua mulher, Maria Célia; e o empresário Naji Nahas.
Para a coluna, após assistir ao vídeo revisando sua trajetória desde os tempos de estudante de Direito em Caxias do Sul, o gaúcho comentou:
– Dá pra ver que a gente tá ficando velho.