É impressionante como Mauricio Macri quer varrer o kirchnerismo do mapa. E isso não é força de expressão - é quase que uma conclusão literal.
Um plano do governo macrista, para despolitizar centros culturais de emblemas da gestão kirchnerista (de 2003 a 2015, entre Néstor e Cristina)), levou esta semana ao encerramento de exposições e à realocação de bustos, quadros e lembranças do ex-presidente Néstor Kirchner.
Inaugurado por Cristina Kirchner (2007-2015) em maio de 2011, o Museu do Bicentenário da Casa Rosada exibia, até esta semana, roupas, sapatos, ou discursos de seu falecido marido, ao lado de outros personagens históricos.
As exposições no Bicentenário tinham acentuada marca peronista, movimento promovido pelo presidente Juan Domingo Perón (1946-1956 e 1973-1974).
Desde segunda-feira passada, dia 9, esse museu de Buenos Aires está fechado para reformas, mas nenhuma fonte consultada pela agência de notícias France Presse (AFP) confirmou se o objetivo é retirar as exposições referentes ao que consideram como proselitismo kirchnerista.
Fontes oficiais que pediram anonimato disseram ao jornal La Nación que "as peças partidárias não vão ficar no museu". Conforme essas fontes, "Macri ordenou fechar o Museu do Bicentenário para 'deskirchnerizá-lo'".
Entre as peças históricas que permanecerão expostas e que superam diferenças ideológicas, está um mural de 1933 do artista mexicano David Alfaro Siqueiros.
No Centro Cultural Kirchner (CCK), um monumental prédio antigo dos Correios reinaugurado como um lugar de apresentações e exposições, em maio de 2015, também se desmontou a sala Experiência Néstor Kirchner. O espaço sintetizava o pensamento, o projeto e as obras do presidente falecido em outubro de 2010.
Os responsáveis pelo CCK se limitaram a declarar que a exposição foi suspensa, porque era "temporária". Mas parece não ser somente isso.
No salão principal da Casa Rosada, uma zona aberta para visitas guiadas na sede presidencial em Buenos Aires, o busto de Néstor Kirchner foi levado para uma parte menos visível. Conforme o governo, atende-se a um reordenamento cronológico das esculturas dos ex-presidentes argentinos desde 1973.
Nessa reforma, as figuras de Néstor Kirchner, Héctor Cámpora, presidente peronista durante 49 dias em 1973, e Juan Perón perderam o lugar nobre que tiveram no hall da Casa de Governo.
- Quisemos encarar reformas desprovidas de qualquer tipo de intencionalidade política ou ideológica. A ideia é que o salão seja uma sala de exposição e de homenagem - disse o secretário-geral da Presidência, Fernando de Andreis.
Carta aos argentinos...
Macri, denunciou o "abandono" e as "travas" do Estado às pequenas e médias empresas em seu país e defendeu as primeiras medidas de seu governo, em uma carta aberta publicada na imprensa neste domingo.
"Viemos de tempos difíceis, nos quais a inflação se tornou um flagelo incontrolável, a criação de empregos de qualidade foi freada e faltou um Estado presente, que planejasse o futuro e acompanhasse os que queriam crescer. Por isto hoje, nesta etapa de transição, estamos prestando especial atenção a todas essas pessoas e a esses setores produtivos que mais sofreram esta etapa de abandono", disse o chefe de Estado em sua carta publicada no jornal El Liberal de Santiago del Estero (nordeste).
A Argentina registra 40,5% de inflação acumulada em 12 meses em abril, segundo um dos índices de referência que o governo utiliza à espera de um indicador nacional que está sob processo de revisão metodológica.
Macri adotou várias medidas polêmicas no início de sua gestão, que desarticularam alguns dispositivos dos governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015).
Em particular, liberou o mercado cambial, que durante anos funcionou com um dólar oficial e um dólar paralelo, suspendeu medidas comerciais rejeitadas pelos exportadores e eliminou retenções fiscais da produção agropecuária.
Macri se referiu em sua carta, especificamente, às pequenas e medias empresas que, segundo disse, "representam 71% dos empregados do setor privado" na Argentina.
"Esta grande força de trabalho que impulsiona o país também vem de um momento difícil, durante o qual foi sobrecarregada com impostos excessivos e travas que lhe impedia de ampliar sua produção. Estes tipos de medidas não faziam outra coisa a não ser asfixiar a criatividade", defendeu em uma clara crítica a seus predecessores.
Macri assumiu em 2015 depois de uma apertada eleição contra o candidato oficialista Daniel Scioli.
Desde a campanha eleitoral este empresário havia se mostrado partidário de fomentar a abertura econômica e havia declarado que buscaria impulsionar o desenvolvimento do setor produtivo empresarial.