Um enredo complexo está por trás do quadro eleitoral peruano. Uma disputa entre a direita de Keiko Fujimori e a centro-direita de Pedro Pablo Kuczynski (também conhecido PPK,) vão decidir quem será o presidente do Peru.
Os peruanos estão entre Keiko e PPK, entre direita e centro-direita.
Como se chegou a isso? Pelo voto útil.
Muitos peruanos veem em PPK as credenciais para evitar a eleição de Keiko.
Com 64,43% das urnas apuradas, Keiko, do partido Força Popular, conseguiu 39,43% dos votos, seguida dos 24,02% de PPK, do partido Peruanos pela Mudança. A candidata esquerdista Verónika Mendonza, ficou em 3º lugar, com 16,71% dos votos. Os dados são da Oficina Nacional de Processos Eleitorais (ONPE), órgão oficial que contabiliza o resultado das eleições.
Muitos foram atrás de PPK para evitar a esquerdista Verónika.
Entre outras declarações de Keiko sobre mudanças em relação ao atual presidente (o centro-esquerdista Ollanta Humala), ela falou em mudanças na economia, crescimento e, claro, segurança.A segurança sempre foi o principal apelo dela e do seu pai, que deu um autogolpe em nome disso.
- Para que o que ocorreu ontem não se repita - disse ela, referindo-se a um ataque do Sendero Luminoso a um grupo de oficiais do exército que causou 10 mortes no interior do país, no sábado.
Keiko é a favor de mais acordos de livre comércio e redução de impostos, mas pondera que defende o aumento nas políticas assistencialistas. O seu rival, PPK, também defende mais acordos de livre comércio, além da flexibilização trabalhista e manutenção dos planos de assistência sem aumento de gastos. Após a divulgação dos primeiros resultados, ele também agradeceu seu eleitorado e disse que governará um país de "jovens cronológicos e jovens de espírito", uma resposta aos críticos que falam na sua idade, de 77 anos.
Keiko, primeira-dama do Peru governado pelo pai
Nascida em Lima, em 25 de maio de 1975, Keiko é a filha primogênita de Alberto Fujimori e Susana Higuchi. Com a separação dos dois, ela se tornou primeira-dama do Peru durante a presidência do seu pai.
Por isso (Keiko se tornou primeira-dama entre 1994 e 2000), volta e meia, tenta se descolar da figura paterna e de suas tropelias - ele está preso, condenado a 25 anos de prisão - ao mesmo tempo em que procura preservar a ligação, que lhe garante votos cativos. Vem daí, aliás, também a rejeição ao seu nome.
O Peru viveu, entre 1980 e 2000, o terror da guerrilha maoista do Sendero Luminoso (SL) e guevarista do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), que empreenderam uma guerra contra o Estado que deixou 70 mil entre mortos e desaparecidos. Fujimori, filho de imigrantes japoneses, governou o país entre 1990 e 2000, dizimou as guerrilhas, apesar de seu governo estar marcado por má gestão, compra de políticos e meios de comunicação.
No final, teve de renunciar em meio a um escândalo de corrupção e se converteu no primeiro presidente peruano condenado por corrupção e crimes contra a humanidade, pela autorização de esquadrões da morte.
Keiko carrega todo esse legado.
PPK é parente de Godard, flautista e economista
"Meus amigos me disseram que poderia ir embora tranquilo, descansar, com minha (motocicleta) Harley (Davidson)", afirma Pedro Pablo Kuczynski, com experiência nos cargos de primeiro-ministro e ministro, que quer sacudir a imagem de "gringo".
"Eu não sou político, sou um economista que quer fazer algo por seu país", declarou o também concertista de flauta transversa do Royal College of Music, que trocou a música clássica pela música andina.
De pai alemão e mãe franco-suíça, o popular "PPK" é primo do diretor de cinema Jean-Luc Godard e sua vida foi de cinema: nasceu no Peru e acompanhou seu pai, médico, em trabalhos sociais nas florestas do país, mas foi educado no Reino Unido, Suíça e Estados Unidos. Em 2011 esteve próximo de passar ao segundo turno e atualmente insiste novamente com o Peruanos Por el Kambio, que carrega suas iniciais.
Precisou renunciar a sua nacionalidade americana - sua esposa a ostenta - em meio ao receio de seus compatriotas, que temem que isso possa servir para que ele fuja da justiça, como fez o peruano-japonês Alberto Fujimori. Explora sua imagem de experiência, valorizada pelos mercados.
Integrou diretórios de várias empresas, razão pela qual seus opositores temem que, se chegar à presidência do Peru, defenderá interesses particulares. "São besteiras", adverte. "Minhas mãos estão limpas", afirma.
Peru é um país que cresce
Com uma taxa de crescimento médio anual de mais de 6% entre 2006 e 2013, o Peru se converteu em uma das economias mais fortes da América Latina, um modelo elogiado por organismos financeiros internacionais. Rico em recursos de mineração, se situa entre os cinco maiores produtores mundiais de ouro, prata, cobre, zinco, estanho e chumbo. Com o fim da bonança das commodities, sua economia desacelerou e, em 2014, registrou um crescimento de apenas 2,4%, devido às quedas na mineração e pesca, outro setor-chave.
Mas um bom cenário para suas exportações não tradicionais, as receitas de novos projetos de mineração e uma boa temporada pesqueira permitiram superar as expectativas e anotar uma expansão de 3,26% em 2015, um cenário muito melhor que muitos de seus vizinhos.
Apesar de sua trajetória de crescimento, o Peru ainda tem uma tarefa pendente, já que 22,7% de sua população vive na pobreza, segundo cifras de 2014, apesar de uma melhoria na situação de 58,7% em comparação há dez anos.
O Peru é um país altamente empreendedor. As pequenas, micros e médias empresas empregam 80% da força de trabalho.
Ainda apresenta desigualdades entre as divisões sociais, étnicas e geográficas. A população rural nos Andes é particularmente marginada.