Um dos mais importantes especialistas brasileiros em terrorismo, o gaúcho André Luís Woloszyn disse à coluna que se surpreendeu com a divulgação, por parte da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), de que há ameaça ao Brasil. E está certo de qual o objetivo: ter mais recursos para o combate ao terror.
Diz Woloszyn:
- Fatos dessa natureza costumam ser mantidos em sigilo. Mas, claro, há um alerta vermelho. Por que divulgaram agora? Certamente para conseguir mais recursos financeiros. Tomara que consigam. Mas temos riscos como qualquer outro país. Não vem ao caso o caráter pacífico do Brasil ou as vastas fronteiras. Primeiro, porque o Estado Islâmico e a Al-Qaeda atacam de acordo com a oportunidade. Também, porque agem em ambientes urbanos tradicionais, não em eventos como as Olimpíadas. E, sobre as fronteiras, hoje isso já é irrelevante, porque terroristas são recrutados nos países ou entram neles normalmente.
A ameaça foi publicada em novembro, em conta no Twitter vinculada a um membro do EI. Desde então, intensificou-se o monitoramento de indivíduos que teriam jurado lealdade ao grupo extremista e poderiam agir dentro do País.
O especialista em segurança e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp, Héctor Luis Saint-Pierre, diz que a preocupação da Abin é justificável e plausível, especialmente em se tratando de um evento de tamanha atenção internacional. Acredita que, desde a última Copa, a questão tem se tornado crucial.
- Trata-se de um espetáculo (Olimpíada), com cobertura da imprensa internacional. Ele (o grupo terrorista) produz seu terror quando pode ser divulgado. Aquele que morre é a vítima tática. Mas a que fica, e assiste, é a vítima estratégica - afirma Saint-Pierre.
De acordo com o especialista, é preciso, nesse momento que os órgãos brasileiros estejam em estreito contato com as agências e polícias europeias para a troca de informações e identificação de possíveis células adormecidas no Brasil. O professor, que já foi consultor do Conselho de Defesa da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), diz que não se deve descartar a possibilidade de que simpatizantes ou membros do EI tenham entrado no Brasil por alguma fronteira terrestre, como Paraguai ou Uruguai.