Na abertura da legislatura de 2016, o novo presidente da Argentina, Mauricio Macri, seguiu a tradição: fez o seu discurso.
A fala de Macri, porém, chamou a atenção pela dureza com que tratou os gestores anteriores, Néstor e Cristina Kirchner. O presidente acusou a gestão anterior de ter deixado o Estado "desordenado e mal administrado".
- Em cada área do Estado temos encontrado desperdício e corrupção - disse o presidente, que abordou o flagelo da pobreza e de corrupção.
- A corrupção mata, como demonstraram o Caso Cromañón ou a tragédia do Once - disse ele, referindo-se ao incêndio na boate República Cromañón, em 2004, que deixou 194 mortos, e ao descarrilamento de um trem na estação Once, em 2012, também em Buenos Aires, que causou 51 mortes.
Foi uma hora de discurso.
- Encontramos um Estado prejudicado pelo clientelismo, pelo desperdício e pela corrupção, que se pôs a serviço da militância política - reforçou, indicando o crescimento de 64% do emprego público entre 2003 e 2015, com o objetivo de "camuflar o desemprego com o emprego público".
Macri garantiu que, ao assumir a presidência, em 10 de dezembro do ano passado, após vencer nas urnas com 51% dos votos, encontrou "um Estado desordenado e mal administrado".
- Faltam documentos, não há estatísticas, custa encontrar um papel - insistiu.
- Nos enganaram, ocultaram o desemprego com emprego público - completou, ressaltando a "inaceitável quantidade de compatriotas que estão na pobreza em um Estado que não parou de crescer e não deu benefícios".
Enquanto ele falava, parlamentares da oposição erguiam cartazes que diziam "Basta de demissões".
- Há uma década que a Argentina é um dos países com maior inflação do mundo, com uma média anual acima dos 20% e de 700% nos últimos 10 anos - continuou o presidente.
De acordo com Macri, o governo da presidente Cristina Kirchner (2007/2015) deixou "um país cheio de dívidas, dívidas de infraestrutura, dívidas sociais, de desenvolvimento". Macri acusou o governo kirchnerista de ter emitido moeda "de modo irresponsável, que gerou inflação, em meio à maior pressão tributária da história do país". E foi além no seu tom pesadamente crítico:
- Tanto pela inflação e as barreiras, o controle cambial, as restrições para importar e exportar, o Estado foi um obstáculo em vez de ser estímulo e apoio. As forças de segurança estão mal equipadas e maltratadas, com pouca capacidade de prevenir. O sistema de defesa está desassistido.
O presidente argentino fez a promessa de "publicar todos os dados, área por área, para que todos saibam o estado que a Argentina em dezembro de 2015".
- A primeira coisa é reconhecer que não estamos bem, embora nos doa, mas é a forma de colocar o ponto de partida na busca desse horizonte com que todos sonhamos - disse o presidente argentino.
Frase de Macri:
"Encontramos um Estado
prejudicado pelo clientelismo,
pelo desperdício e pela corrupção,
que se pôs a serviço
da militância política."
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CASO NISMAN
Um dos momentos mais fortes foi o que ele usou para comentar a misteriosa morte do procurador Alberto Nisman, que investigava atentados terroristas na Argentina - em especial, o da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994, que, com o perpetrado contra a embaixada de Israel, em 1992, deixou um total de 114 mortos. Para muitos, Nisman é a "115ª vítima".
Macri disse que informações têm surgido e que o mistério será desvendado.
Aqui, um vídeo com o trecho do discurso em que Macri fala sobre Nisman:
Obs: ex-espião Antonio "Jaime" Stiuso rompeu silêncio o silêncio e disse à Justiça que Nisman foi assassinado porque investigava encobrimento no Caso Amia. Stiuso, peça-chave no episódio, deu diversos detalhes ao Judiciário. A então presidente Cristina Kirchner teria feito acordo com o Irã para encobrir participação de autoridades iranianas no atentado contra a AQmia.
Na semana passada, um procurador falou que se trata de homicídio.