Pode ser um "aperitivo" em relação ao que poderá vir a fazer o presidente Barack Obama, com um peso político ainda maior caso ocorra alguma declaração - até porque a visita de Obama ocorrerá exatamente no dia 24 de março, quando se completam 40 anos do golpe militar que levou a Argentina às sombras de uma cruel ditadura, que deixou 30 mil mortos e feridos.
Em seu último dia na Argentina, o presidente da França, François Hollande, prestou homenagem aos mortos na chamada "guerra suja".
Nesta quinta-feira, Hollande se reuniu com representantes das associações Mães da Praça de Maio (Linha Fundadora) e Avós da Praça de Maio no parque da Memória, em Buenos Aires, onde lembrou as freiras francesas que foram assassinadas no período. As freiras participavam de movimentos de direitos humanos e protestavam contra o desaparecimento de civis.
Hollande disse estar ali "não só porque a França foi afetada, mas também porque se cometeu um crime em massa na Argentina".
Ao todo, 22 franceses desapareceram durante a ditadura, que se estendeu do golpe em 24 de março de 1976 até a posse de Raúl Alfonsín, em 1983.
Hollande disse:
- Quero expressar aqui a minha emoção e a solidariedade da França às vítimas da opressão e da barbárie. Também quero saudar a luta dessas mulheres que buscaram seus filhos e netos e só tiveram sucesso depois de tantos trâmites.
Estavam ao lado do dirigente, a líder das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, e seu neto Ignacio Montoya Carlotto, localizado em 2014, além de Taty Almeida, da Mães da Praça de Maio (Linha Fundadora).
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Após entrar em conflito com as mães e as avós da praça de Maio, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, tentara amenizar as diferenças e recebeu as representantes dos movimentos terça-feira na Quinta de Olivos (residência oficial da Presidência), a cerca de 20 km do centro de Buenos Aires.
Em encontrou de 45 minutos, do qual também participaram outras entidades de direitos humanos, as representantes falaram de suas preocupações com a realização de uma marcha em 24 de março na praça de Maio, em Buenos Aires.
Na data, que marca o 40º aniversário do golpe de Estado que deu origem à ditadura mais violenta do país, o presidente americano, Barack Obama, estará na cidade. A visita do dirigente causou controvérsia entre os argentinos. "Que linda será a marcha do dia 24 recordando a Obama que seu país foi cúmplice e responsável pela ditadura", escreveu no Twitter a escritora e política kirchnerista Gabriela Cerruti.
O governo, porém, garantiu durante a reunião que a manifestação poderá ser feita, apesar das medidas de segurança exigidas pelo governo americano.
Além de tratarem da marcha, as mães e avós de Maio pediram ao presidente a libertação de Milagro Sala (líder política da oposição) e disseram estar preocupadas com as ações de repressão a protestos anunciadas pelo governo.
"Há assuntos que estão no documento que entregamos a Macri que nos preocupam. O presidente nos escutou, respondeu com serenidade e garantiu tomar algumas medidas", disse Estela de Carlotto.
A relação entre Macri e as associações de familiares de desaparecidos na ditadura nunca foi amistosa.
Antes mesmo de o presidente ser eleito, Carlotto afirmou que, se Macri vencesse, repressores da ditadura seriam soltos.
Em janeiro, Macri se recusou a receber a líder da associação, alegando falta de tempo. O chefe de gabinete da Presidência, Marcos Peña, ficou encarregado de se reunir com Carlotto.
A atitude não foi bem vista e acabou repensada na semana passada, quando surgiram pressões na sociedade com o anúncio da visita de Obama no dia 24 de março.
Para não ter imprevistos durante a estada do mandatário americano, Macri tratou de convidar Carlotto para o encontro desta terça. Anunciou que era um ato preparatório para as atividades que marcarão o 40º aniversário do golpe.
Além da líder das Avós, o presidente também recebeu representantes da Mães da Praça de Maio Linha Fundadora. A associação das Mães da Praça de Maio, no entanto, não participou do encontro. A líder da entidade, Hebe de Bonafini, tem uma posição mais dura em relação a Macri.
- Com o inimigo não se pode dialogar - afirmou recentemente à Folha de S.Paulo. Bonafini já insultou o dirigente publicamente mais de uma vez.
Os movimentos de direitos humanos argentinos receiam que Macri, um político de centro-direita, interrompa o julgamento de agentes da ditadura. Eles também tinham uma forte relação com a ex-presidente Cristina Kirchner, de quem recebiam apoio e recursos financeiros.