As democracias modernas permitiram, em grande parte do mundo, a consolidação de partidos vocacionados à disputa pelo poder e pouco afetos à proposição de políticas públicas eficientes e à efetivação de reformas. Isto ocorreu, como subproduto do sistema, basicamente pela modulação das posições dos candidatos à média das expectativas do eleitorado e pelo financiamento privado das campanhas. O processo, entretanto, é disfuncional, porque impede mudanças necessárias diante do risco de desgaste eleitoral e de prejuízos à governabilidade. Os vitoriosos se tornam, então, paralíticos. A experiência concreta de sucessivos governos que adiam a resolução de problemas históricos (o que os torna mais graves) alimenta a sensação de inutilidade da política. Quando esta realidade se soma à percepção de que os incompetentes se beneficiam de privilégios e, com frequência, roubam, se produz o "descolamento" pelo qual a cidadania perde suas referências na esfera pública e mergulha seus sonhos no espaço de suas vidas privadas.
Artigo
Para quebrar o feitiço
Jornalista e sociólogo